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TEMAS PARA O APRENDIZ MACOM
Capítulos 21-30

Ven.Irmão OMAR CARTES


 

Capítulo 21

A Corda de 81 nós

 

A Corda de 81 Nós é um símbolo pouco conhecido que existe no Templo maçônico, estando localizado na parte superior de suas paredes, acima das colunas zodiacais. O material da corda, pese a que é permitido ser esculpida na parede, deve ser confeccionada em material natural podendo ser fibras de sisal, cânhamo, juta, linho ou outro similar. A costume de substituir materiais naturais por produtos artificiais, deveria ser abolida de nossos Templos porque com isso estamos paulatinamente perdendo o esoterismo que eles transmitem; como exemplos mencionamos o avental que deveria ser de pele de cordeiro e que hoje se permite o uso de material plástico, o acendido das velas com isqueiro e não com fósforos, a substituição das mesmas velas de cera por lâmpadas elétricas, etc.

Os denominados nós, na verdade são laços chamados “laços de amor” e que lembram o amor que deve existir entre os irmãos da Loja. A forma de cada laço tem uma forma que lembra o ato de geração renovadora já que consiste em um anel (feminino) que é penetrado pela corda (masculino) mostrando como o amor atua na continuidade da vida. A disposição do laço será a de um oito deitado lembrando o infinito.

Os laços devem estar distribuídos em uma perfeita simetria ao longo da Corda. O primeiro laço ficará sobre o dossel ou o trono do V M e os outros 80 distribuídos em 40 de cada lado até os extremos da Corda situados junto a porta de entrada do Templo, no Oc. A Corda termina em duas borlas que recebem o nome de Justiça ou Equidade e Prudência ou Moderação. Esta abertura da Corda, em torno da Porta indica que a Maçonaria sempre estará aberta para receber novos candidatos que se interessem pelo estudo da Verdade, como também para todos os conhecimentos e novas idéias que elevem a espiritualidade do Homem.

O laço que fica sobre o trono do Va Divindade, criador do Universo e de todo o que existe. Os 40 laços ou nós de cada lado da Corda lembram os 40 dias que durou o dilúvio (Gênesis, cap 7 vers 4: “Farei chover sobre a terra 40 dias e 40 noites”), os 40 dias que Moisés passou no deserto com o Senhor (Êxodo cap 34 vers 28 “E esteve ali com o Senhor 40 dias e 40 noites”), os 40 dias do jejum de Jesus (Matheus cap 4 vers 2 “E, tendo jejuado 40 dias e 40 noites, depois teve fome”) e os 40 dias que Jesus esteve na Terra após a ressurreição (Atos dos Apóstolos cap 1 vers 3 “Sendo visto pêlos Apóstolos por espaço de 40 dias”), 40 anos os israelitas peregrinaram pelo deserto até chegar a Canaã, a Terra prometida; a Quaresma dura 40 dias e antigamente certos doentes mais graves ficavam em quarentena como se tal fosse o período necessário para purificar o doente. Em numerologia, 40 é o número da penitência e da expectativa.

A Verdade está representada pelo número 18; o número 81 também nos está representando a Verdade só que em uma forma oculta, simbolizando que a Verdade não é fácil descobrir, ela exige muito estudo e mesmo assim provavelmente nunca a conheceremos. O número 1 simboliza a Unidade, o Grande Criador Incriado, Deus, o G e o 8 simboliza o Infinito. Deus e o Infinito, quando nada mais existe. Um mais Oito somam Nove, o número perfeito, o número espiritual; 81 é o quadrado de Nove que por sua vez é o quadrado de Três.

Nosso Irmão Oswaldo Ortega é citado em um trabalho sobre a Corda de 81 Laços, do Irmão Ivan Barbosa de Oliveira (Grande Loja de Brasilia), publicado na internet, quando menciona que os 81 laços, estando na parte superior das paredes portanto perto do céu, tem ligação com os 81 anjos que visitam periodicamente a Terra; a cada 20 minutos um anjo desce e dá sua mensagem aos Homens; são 72 visitas no dia e que somados aos 9 planetas, que também nos influenciam, chegamos novamente ao número 81. Conforme nosso Irmão Ortega estes anjos estão representados nos 81 laços.

 

Capítulo 22

A Abóbada Celeste

 

O Templo maçônico é coberto por uma abóbada celeste semeada de estrelas e nuvens, na qual circulam o Sol, a Lua e inúmeros outros astros, que se conservam em equilíbrio pela atração de uns sobre os outros e se o Templo representa o Universo, o pavimento é a Terra e o teto é o Céu.

Em arquitetura, uma abóbada é uma construção em arco, feitas de pedras ou tijolos, que são colocados em cunha para se auto-sustentar, ficando uma estrutura suspensa que resulta em uma solução acústica e também estética. Esta solução foi muito usada nas catedrais de estilo gótico.

Entre tantas especulações existentes na história da Maçonaria, atribui-se a Elias Ashmole a criação da abóbada celeste que adorna o teto dos Templos maçônicos, e que de 5.000 astros conhecidos na época (1648 dc) haveria escolhido 36 para formar parte dela e que seriam os regentes de Luzes, Oficiais e graus maçônicos.

Esta é mais uma especulação sem base, das tantas que rodeiam à Maçonaria e que não resiste o mais simples análise. Elias Ashmole escreve no seu Diário que foi iniciado em Warrington, condado de Lancashire junto do Coronel Henry Mainyaring em Outubro de 1646 e que ficou sem participar de nenhuma reunião maçônica durante 35 anos e por outra parte, lembremos que as reuniões maçônicas nessa data (século XVII) eram tradicionalmente realizadas em tabernas, numa condição muito diferente da que poderia oferecer um Templo como é atualmente.

Dos 36 astros, Marte, por razões até certo ponto lógicas foi deixado no Átrio já que ele representa a guerra, a violência não podendo, obviamente, ocupar um lugar dentro do Templo maçônico.

No quadro que figura a continuação estão descritos os 36 corpos celestes, o cargo ou grau que representam e uma breve descrição dos motivos pelo qual foram considerados dentro da simbologia maçônica. Só cabe dizer, que estes corpos foram considerados conforme o conhecimento astronômico existente 3 séculos atrás. Os aparelhos daquela época eram precários e somente permitiam ver os 3 maiores dos famosos anéis de Saturno e as Pleiades são uma nebulosas com infinidade de estrelas, das quais o homem antigo conheciam só sete. Uma explicação especial merece a Stella Pitagoris, regente do Segundo Vigilante. Conforme Pitágoras, quando são discutidas coisas divinas, o que realmente acontece dentro de uma Loja maçônica, deve existir um facho que ilumine o Templo. Como o Sol era a luz mais intensa do Universo conhecido foi reservada para o Venerável Mestre, simbolizando a sabedoria de Deus vinda desde o Oriente, não sendo conhecido outra estrela que emitisse tanta luz. Hoje se sabe que existem muitas outras estrelas mais brilhantes e maiores que o nosso Sol, por exemplo Arcturus, Antares e Formauhalt. Por isso, foi criada uma estrela virtual que recebeu o nome de Stella Pitagoris.


 

 

ASTROS REGENTES DOS CARGOS E GRAUS

 

 

 

 

CARGO/ GRAU

 ASTRO

Ordem

DESCRIÇÃO

 

 

 

 

Venerável Mestre

Sol

1

Estrela anã amarela, 4,5 bilhões de anos de idade. Está na metade da sua vida e no final irá se converter numa super-nova; magnitude absoluta M=4.8 que indica um brilho fraco; temperatura superficial de 5.700o K; diâmetro = 1.392.00 km;  emite luz e calor produto de reações termonucleares provocadas pela reação do 91.2% de H2 que se funde para formar He; 4 átomos de H2 são transformados em 01 de He.   O Sol é a luz maior do sistema solar e da Loja.  Sua luz é símbolo de Sabedoria.

1o  Vigilante

Lua

2

Satélite natural da Terra; reflete a luz do Sol.  Diâmetro médio de 3476 km; distância média da Terra 380.000 km Sua volta em torno da Terra demora 27,322 dias terrestres exatamente o mesmo tempo de seu giro em torno de si mesma.  Por isso sempre vemos a mesma face desde a Terra.   Simboliza a luz que é recebida do VM e que é retransmitida pelo 1o  Vig para as colunas.

2o  Vigilante

Stella Pitagoris

3

Estrela virtual de 5 pontas;  é o facho de luz que ilumina o Templo quando se discutem coisas divinas.

Orador

Arcturus

4

Estrela gigante laranja da Constelação de Boótis (Boieiro).  Diâmetro 22 vezes maior que o Sol;  está a 36,7  anos-luz da Terra;  Magnitude aparente -0,05 (83 vezes mais luminosa que o Sol);  em latim significa “guarda  da Ursa maior” e em grego “guardião de animais”.   O Orador é o Oficial que cuida na Loja do cumprimento das leis.

Secretário

Spica

5

Nome tradicional da estrela Alfa da Virgem.  Magnitude visual 1,2 situada a 220 anos-luz da Terra;  em latim significa “a espiga”;  romanos e gregos usavam, para escrever, caules ocos de vegetal conhecidos como “specula”

Tesoureiro

Aldebarã

6

Estrela gigante vermelha da Constelação de Touro. Diâmetro 36 vezes maior que o Sol;  Magnitude aparente 0,87;  temperatura na superfície 3000o K;   situada a 65,1 anos-luz da Terra;  seu nome em árabe significa “adepto ou secuaz ou seguidor” porque, aparentemente, segue as Plêiades e as Hades da mesma Constelação.

Chanceler

Formalhaut

7

Estrela de magnitude visual aparente 1,17 e absoluta +2,0  Luminosidade 13 maior que o Sol; cor branca; situada a 25,1 anos-luz da Terra;  muito utilizada pelos navegantes e hoje pelos cosmonautas;  temperatura superficial 9000o K;  origina do árabe “Fam-al-Hout-al-Ganoubi” que significa “boca do peixe do Sul” porque pertence a Constelação de Peixe Austral

Mestre Cerimônias

Regulus

8

Estrela branco-azulada de 1a magnitude, a mais brilhante da Constelação de Leão situada a 68 anos-luz da Terra;  diâmetro 3.5 vezes maior que o Sol;  luminosidade é 130 vezes maior que o Sol;  seu nome foi dado por Copérnico e significa “regente”

Guarda do Templo

Antares

9

Estrela supergigante vermelha, Constelação de Esorpião, diâmetro 300 vezes maior que o Sol;  temperatura  superficial 3500o K;  situada a 604 anos-luz da Terra;  seu nome significa “o rival de Marte”

Cobridor

Marte

10

Marte é um dos 9 planetas mais conhecidos do Sistema Solar ocupando a 4a órbita  em torno do Sol;  está situado a 80 milhões de kms da Terra;  tem dois satélites naturais conhecidos; confundido visualmente com Antares devido a sua semelhança de cor;  na mitologia é o Deus da guerra e por tanto foi colocado fora do Templo.

1o Diácono

Mercúrio

11

É o planeta que orbita mais perto e mais rápido do Sol; sua volta demora 88 dias; é o menor dos 9 planetas conhecidos, com 4880 km de diâmetro e seu giro em torno de seu eixo demora 58 dias;  na mitologia é o mensageiro dos Deuses

2o Diácono

Vênus

12

Planeta que fica em 2o lugar mais perto do Sol;  sua revolução demora 243 dias;  conhecido como Estrela Dalva, Estrela matutina, Estrela Vespertina, Estrela do Pastor, etc;  confundido como estrela por causa de seu brilho devido a sua atmosfera;  surge sempre perto da Lua

Past Masters

Júpiter

13

O maior dos planetas conhecidos do Sistema Solar;  diâmetro de 143000 km e massa 318 vezes maior que a Terra;  sua volta em torno do Sol demora 11 anos;  nome deriva do sânscrito Dyn (Deus) e Pater (Pai); temperatura na superfície de 130o K;  possui 22 (2002) satélites conhecidos.  Na mitologia, reunia em si  todos os atributos divinos

Cadeia de União

Saturno

14

O 2o  maior planeta conhecido do Sistema Solar com um diâmetro médio de 120000 km, situado a 01 bilhão de km do Sol. Sua volta em torno do Sol demora 30 anos mas sua rotação é muito rápida com 10h e 14min;  Rege a Cadeia de União....

Aprend Comp Mestr

 

 

... Na época que a Abóbada Celeste foi criada, dos milhares de anéis que Saturno tem só eram  conhecidos 3 anéis de Saturno que representam Aprendizes, Companheiros e Mestres ... 

Cargos sefiróticos

 

 

...  é 9 satélites naturais (hoje são conhecidos 18) que representam os 9 cargos sefiróticos : Venerável Mestre, Orador, Secretário, Tesoureiro, Chanceler, 1o  e 2o  Vigilantes, Mestre de Cerimônias e Guarda do Templo

Aprendizes

Orion

15, 16, 17

Constelação equatorial, a mais brilhante no Verão; consta de um retângulo formado por 4 estrelas e uma linha de 3 estrelas (as 3 Marias), formação associada ao avental do Ap.   Na tradição árabe, Orion  era a “ovelha do cinto branco”;  as 3 estrelas regem os Aprendizes.

Companheiros

Hiades

18, 19, 20, 21 e 22

Cúmulo aberto de 140 estrelas aproximadamente, na Constelação de Touro;  antigamente só eram visíveis 3 delas. 

Mestres

Plêiades

23, 24, 25, 26, 27, 28 e 29

Aglomerado aberto na Constelação de Touro, com uma quantidade infinita de estrelas, das quais, na época da criação da Abóbada, somente 7 eram vistas a olho nu;  situado a 350 anos-luz da Terra;  são conhecidas como as “Sete Irmãs” 

Mestres Instalados

Ursa Maior

30, 31, 32,33, 34, 35 e 36

Constelação circumpolar norte.   Considerada a constelação mais antiga conhecida do homem. A simbologia maçônica escolheu as 7 estrelas mais significativas;  os nomes das 2 maiores, Alkaid e Benetmash, formam parte da frase árabe “Quaid al banat ad Nash” que significa “a chefe das filhas do ataúde maior”

 

 

 

NOTAS : O número de ordem é arbitrário e foi usado unicamente para contar os 36 astros que formam parte da Abóbada Celeste (incluindo Marte que fica fora do Templo)

 

 

 

Past Masters refere-se aos Ex Veneráveis Mestres

 

 

 

Mestres Instalados são todos os Mestres que já foram instalados como Venerável Mestre, incluindo o atual

 

 

 

Past Masters e Mestres Instalados não são sinônimos

 

 

 

Cargos Sefiróticos refere-se ao Árvore da Vida (da Cabala) assimilando a localização dos cargos em Loja com As Esferas (ou sefiras)

 

 

 

FONTES : Boletim do Venerável Colégio - No 87 - Carlos A. Inácio Alexandre

 

 

 

               Revista A Verdade, Julho e Agosto de 1996 - Ronaldo Ferreira da Silva

 

 

 

               Revista A Verdade, Janeiro e Fevereiro de 1999 - Milton Silva de Castro


Capítulo 23

As Romãs

 

A romã é o fruto da romãzeira, pequena árvore de altura máxima de 2 metros e de madeira muito dura, mesmo sendo fina. Seus ramos são harmoniosamente distribuídos numa formando copas proporcionais, tanto para os lados como para acima. As raízes, bastante ramificadas, buscam no solo seu alimento, conseguindo alimentar a planta ainda nas condições mais adversas. Adapta-se até nas condições climáticas mais adversas. Ninguém sabe com certeza de onde é sua origem considerando-se uma planta universal.

Seu período de produção é longo; no Brasil começa em dezembro e pode chegar à março e abril. Uma árvore bem cuidada pode produzir até 59 kgs de frutos.

Comercialmente, como fruta a romã não é muito procurada mas é usada na produção de perfumes e por aqueles velhas costumes do povo (uma semente na carteira garante o dinheiro, onde a planta cresce existe a prosperidade) sua procura é grande, sem falar que também encontra usos na medicina popular e na produção de licores caseiros já seja combinados com frutas, cascas ou folhas. Do formulário egípcio podem ser citadas as cascas e raízes da romã, como vermífugas.

A romã é abotoada, com o amadurecimento vai amarelando ficando umas partes vermelhas e deve ser colhido ainda incompleto enquanto a maturação, porque maduro atrai os pássaros e pode levar ataque de antracnose; mas, se você não tiver interesse comercial e gostar de pássaros e crianças, deixe o fruto amadurecer na árvore.

Partida, a romã revela grande quantidade de sementes todas iguais, formando fileiras ordenadas, de sabor agridoce devido a composição cítrica, misturada com um açucarado envolvente. Suas sementes estão amparadas por uma película que separa as sementes por grupos, evitando o excesso de pressão sobre as sementes; a sua vez, cada semente é envolvida por uma substância de agradável sabor.

Normalmente os alimentos vegetais e até animais tem uma proporção maior de potássio que de sódio na proporção de 5 : 1. Uma boa alimentação procura balancear os dois elementos e justamente a romã possui bons índices de sódio mas também não exclui o potássio.

Agora, conhecendo a romã, podemos relacioná-la com a simbologia maçônica.

Dentro de nos, representada por nossos pensamentos e idéias, corre a seiva que nos dá força moral, ainda que não tenhamos físico ou poder material significativos. A romãzeira nos ensina que devemos buscar a Deus no alto, mas sem nos esquecer de nosso semelhantes que estão ao nosso lado e que poderão precisar de sombra e apoio. Ao mesmo tempo, as raízes da romãzeira que afundam na terra ensinam que os maçons não podem viver apenas na superfície. Tem-se que aprofundar nas suas convicções, na sua fé, e ter disposição para garantir firmeza e segurança aos nossos passos dentro do que se espera deles.

As sementes da romã são o símbolo da fraternidade maçônica, como também da solidariedade entre os maçons: todos iguais, estreitamente unidos, apoiando-se os uns a os outros, agrupados em Lojas e todas as Lojas contidas no mesmo invólucro que é a Grande Loja.

Desde seu nascimento de uma flor, que é o Aprendiz, até a maturação, que é o Mestre, quando já pode alimentar a quem estiver faminto e sedento de conhecimentos e sabedoria.

Maçons devem, que nem a romã, serem comedidos ao alimentar ao profano. Nem mais sódio nem mais potássio; nem estímulo imerecido nem reprimenda desestimuladora.

 

Capítulo 24

As Ciências Iniciáticas

 

 

INTRODUÇÃO

“Uma crença geral coloca a Maçonaria como a guardiã da Tradição e dos Mistérios Iniciáticos. Gostar-ia-mos de corroborar essa imagem que o leigo faz de nossa Instituição, mas infelizmente não podemos por saber estarem nossos membros cada vez mais distantes de suas origens”. (Rev A Verdade Mar/Abr 97, Ir Malkhut)

Todos os autores maçônicos lembram da importância do estudo, por parte do maçom, da Tradição e dos conhecimentos iniciáticos representados pela Astrologia, Alquimia, os Mistérios, Cabala, Tarot, etc. Nestas páginas tentaremos fazer um apanhado destes temas, sem pretender esgotar eles e sim, incentivar nossos Irmãos a se adentrar no assunto.

ASTROLOGIA

Os límpidos céus da Mesopotamia convidam os povos da região a iniciar a observação celeste criando-se assim a mais antiga das ciências: a astronomia misturada com a astrologia. Sabemos a indignação que toma conta dos astrônomos modernos esta relação astronomia / astrologia, mas o conhecimento dos astros começa na observação das constelações que circulam perante os olhos do observador nas terras da Mesopotamia.

Esta observação define a movimentação diária dos astros (que hoje sabemos que é relativa), sempre em uma mesma rota, numa faixa total de 12 graus (seis graus para cada lado da linha equatorial), posteriormente modificada para 16 graus, tendo em seu centro a eclíptica (círculo máximo da esfera celeste, caminho aparentemente seguido pelo Sol em torno da Terra) e que é o plano que forma a órbita da Terra ao redor do Sol. Esta faixa pela qual circulavam aparentemente os astros recebe o nome de Zodíaco. A palavra Zodíaco vem do grego “zodiacos” e significa círculo de animais que, por sua vez, provém de “zodion” que significa pequeno animal.

Hiparco, nascido em Nicea, cidade da atual Turquia, no século II ac, divide o Zodíaco em 12 casas iguais de 30 graus cada, e deu a cada uma delas o nome da constelação mais próxima; os nomes das constelações foram dados pêlos antigos pela forma de cada constelação que lembrava determinado animal ou outra figura. Nascem assim os signos do Zodíaco, ou casas do Sol e como o Sol demorava um mês em recorrer cada casa, cada mês recebeu um signo. O Zodíaco começa com o signo Aries que na época que ele foi criado, essa constelação estava no primeiro lugar. Hoje isto já não é assim, devido ao fenômeno da precessão, que é a ocorrência antecipada dos equinócios (equinócio = igual noite; a época do ano que a duração do dia é igual a noite, 24 de março e 24 de setembro) em cada ano sideral sucessivo devido ao lento movimento retrógrado dos pontos equinociais ao longo da eclíptica. A precessão demora 72 anos por cada grau e considerando 30º de cada signo temos como resultado 2.160 anos o tempo que cada “casa” demora em mudar totalmente de posição. O ponto de interseção do plano do equador terrestre com o plano da eclíptica gira uma volta completa a cada 25.920 anos, quando a constelação de Aries coincidirá com o signo Aries. Este período é conhecido como ano sideral e os gregos o designaram como um Dia de Platão.

A quantidade de pulsações por minuto que tem um Homem normal é de 72. > Também 25.920 corresponde ao total de respirações de um ser humano em 24 hrs sendo 18 por minuto

25.920 é a vibração cósmica do ser humano coincidente com o Universo. Lembremos a Hermes Trismegisto: O que está encima é igual ao que está embaixo. O macrocosmo (Universo) é igual ao microcosmo (Homem). Uma única estrutura cósmica.

Voltando a precessão equinocial, temos que uma Era dura 2.190 anos. Quando o homem antigo descobriu o círculo zodiacal, estava na Era de Áries; depois o Sol entra na constelação de Peixes pouco antes do nascimento de Jesús (lembremos a multiplicação dos peixes e que os católicos nas catacumbas adotam o peixe como identificação), e hoje já estamos na Era de Aquário.

O Zodíaco misturou um caráter tanto científico como religioso e até supersticioso nos povos. Ele foi abraçado por todos os povos da antigüidade, prolongou-se durante a Idade Média e continua até hoje em todos os níveis sociais. No seu uso como horóscopo tem superado todo tipo de críticas científicas tais como (só para mencionar algumas): pode ter credibilidade o Zodíaco quando hoje se sabe que as casas não são doze e sim 24? por que dois gêmeos tem diferencias de caráter e desenvolvimento na vida? por que somente os primeiros astros conhecidos na antigüidade são usados nos vaticínios e não os bilhões que hoje se conhecem?, etc.

O teto das Lojas maçônicas representa a abóbada celeste semeada de estrelas e nuvens, na qual circulam o Sol, a Lua e outros astros ou constelações em um total de 35, mais um deles, Marte, que está fora do Templo. Esta abóbada está sustentada por doze colunas adornadas com os doze tradicionais signos do Zodíaco. É o tempo indestrutível e eterno onde descansa a Moral e a Sabedoria maçônicas, lembrando aos irmãos que devemos utilizar sabiamente o tempo porque quando ele passa já não volta mais. Nosso passo pela Terra é muito breve. Também o Zodíaco nos convida a estudar história, geografia, religiões e astronomia, como elementos importantes de nosso aperfeiçoamento. Lembremos a Maimônides (filósofo, teólogo e médico judeu, nascido em Córdova (Espanha) em 1138 dc, que é considerado o Platão dos judeus) quando fala no seu livro Guia para os Perplexos ou Extraviados: “Estude Astronomia e Física se desejar compreender a relação entre o mundo e o modo como ele é regido por Deus”. Finalmente, o Zodíaco dentro de nossos Templos representa uma homenagem à cultura daqueles povos antigos.

ALQUIMIA

No seu sentido tradicional, a Alquimia era a técnica que pretendia transformar em ouro os metais inferiores. Sua origem encontra-se mais provavelmente no antigo Egito e é a partir dali que procuramos a etimologia da palavra. Egito é conhecido na linguagem copta como terra de Khem ou Khame (terra negra); no grego recebe o nome de Khemia dado à transmutação do ouro e da prata, por ser uma técnica de que tratam os velhos escritos dos egípcios. Os árabes incorporaram a forma alkimiya e a levaram a Europa onde no português e no espanhol foi transformada em alquimia.

Para o conhecimento de hoje, a Alquimia era um conjunto de teorias sem lógica, com base filosófica, com muito misticismo ocultista, quase sempre apoiadas em experimentos e fenômenos naturais que constituíam a base experimental e com regras rodeadas de símbolos cabalísticos.

Na cidade de Memphis, no antigo Egito, os sacerdotes dedicavam-se a fundição e purificação de ouro. Não existia ainda um questionamento filosófico ou principio religioso com base na Alquimia; ele virá do mundo grego. A tradição egípcia considera a Alquimia invenção do deus Thot (o Hermes dos gregos), sendo considerada um “arte hermética” dando origem a expressão “hermeticamente fechado” porque os alquimistas lacravam seus frascos com o selo de Hermes. Os conhecimentos da Alquimia eram sagrados e os iniciandos juravam manter segredo deles.

Os primeiros antecedentes gregos datam do ano 100 dc, mas os alquimistas da antigüidade não são gregos e sim judeus e egípcios. Na mesma época dos gregos, os chineses procuram com procedimentos próprios de alquimistas, a obtenção de um elixir da imortalidade sob o conceito da Pedra Filosofal para curar todas as doenças. O Islão, nos anos 750 dc, tem um grande desenvolvimento cultural sob a dinastia dos califas Abasidas de Bagdá e, entre outras ciências, eles se interessam pela Alquimia e, entre os anos 1100 e 1200 dc, ela é levada para a Europa, junto com a invasão de Espanha e Portugal.

A Alquimia foi combatida em diferentes épocas, tanto por motivos políticos como religiosos. Durante a Idade Média, é colocada fora da lei e penalizada até com a pena de morte, confisco de todos os bens, etc; mas ela continua se expandindo. Roger Bacon foi perseguido por suas experiências alquímicas, mas é solicitado secretamente pelo Papa Clemente IV para que entregue um relatório de suas pesquisas. Com o desenvolvimento cultural da Europa, perde-se o interesse dos alquimistas na busca da Pedra Filosofal e do Elixir da Vida e começam a serem desenvolvidas técnicas mais industriais, dirigidas à obtenção de perfumes, tintas, etc. Aparece Paracelso (1490-1541) que se dedica á pesquisa de medicinas para curar doenças da época.

No século 18, Marcelin Berthelot inicia a tradução de manuscritos antigos de Alquimia, mas sem conhecer devidamente as línguas na qual eles estavam e com colaboradores que pouco sabiam da natureza das operações neles descritas e o resultado foi aumentar as reservas com que o mundo moderno analisa até hoje as práticas alquímicas, vendo-as mais como superstições medievais. Vagarosamente, estudiosos estão dando importância aos trabalhos dos alquimistas da antigüidade. Gravuras de 4 séculos atrás indicam que os alquimistas, no fim da Idade Média, tinham desenvolvido técnicas de muito valor para a época; uma destas gravuras mostra um lobo cinzento devorando um rei e, ao fundo uma fogueira onde o lobo é queimado e o rei ressuscitado. Nesta alegoria, o lobo representa a estibinita, um mineral a base de antimônio e enxofre (Sb2 S3) que, quando fundido, dissolve “vorazmente” muitos metais, inclusive o ouro, que estaria representado pelo rei. Quando uma liga metálica é derretida, a estibinita reage com um dos metais e forma uma borra que pode ser retirada com uma escuma. O metal básico da liga é, desse modo, separado do outro. Este é um exemplo de centenas de procedimentos desenvolvidos pêlos alquimistas para entendimento só de iniciados, preservando-os de cair em mãos profanas, especialmente de aventureiros.

Se discute se a Alquimia evolucionou ou não para dar origem à ciência que hoje é conhecida como química; enquanto existem os que consideram a Alquimia simplesmente uma magia, químicos modernos dizem que quando a Alquimia se praticava, o que sempre existiu foi a química. Outros argumentam que as ciências antigas pêlos seus métodos, meios, objetivos, princípios, critérios, etc, não apresentam nenhuma relação com as ciências modernas. Mas, alguns reconhecem na Alquimia o mérito de ter introduzido a experimentação, que hoje em dia é um importante elemento da ciência moderna. De todas maneiras, aceite-se ou não a Alquimia como o berço da Química moderna, ela merece nosso respeito como mística experimental voltada para descobrir o mistério dos metais e sua relação com a alma do universo.

OS MISTÉRIOS

Os sábios antigos explicavam suas idéias por médio de enigmas de difícil interpretação, na forma de símbolos, parábolas ou frases escuras, para que elas não fossem a cair nos ouvidos de profanos, com o risco de ser mal interpretados ou mistificados. Estando a compreensão destes enigmas, símbolos, jeróglifos ou linguagem emblemática, em poder somente dos iniciados, eles passaram a ser conhecidos como Mistérios. A palavra grega mysterion designa certas cerimônias religiosas secretas, freqüentadas somente por iniciados que se comprometiam a nunca revelar sua natureza aos profanos. Este sistema serviu de base para que homens como Confúcio, Zoroastro, Buda, Jesus e outros Grandes Iniciados conseguissem transmitir suas doutrinas para serem entendidas gradualmente pêlos seus discípulos..

Prestextatus, cônsul romano de muita cultura (s IV dc) dizia que “privar os gregos dos Mistérios augustos era tornar para eles a vida impossível”. Nessa época eram tão importantes os Mistérios que não participar de nenhum deles motivava desconfiança do valer da pessoa. Sócrates, no Phaedo de Platão, argumenta que “eram homens de ingênio os fundadores dos mistérios, que ensinavam sob enigmas difíceis de compreender, purificavam-se antes de descer a regiões profundas, com risco de perecer nos abismos, para finalmente gozar da presença da divindade”. Curiosamente Sócrates não foi iniciado em nenhum dos mistérios da sua época e pode ser que isso influiu negativamente no seu julgamento. Como, igualmente, para pretender ser iniciado, a consciência do candidato tinha que estar limpa, Nero, o tirano, nunca ousou penetrar nos Templos para descobrir os Mistérios e Constantino não foi iniciado por causa do homicídio de seus parentes.

Não conhecemos o origem exato dos Mistérios mas sabemos que eles são comuns a todas as grandes civilizações do mundo antigo. As lendas de Osiris e Isis no Egito, de Thammuz e Astarté na Fenícia, de Mithras e Asis na Pérsia, de Dioniso e Rhea na Samotracia, de Hu e Caridwem na Grã Bretanha, de Woden e Frea nos povos escandinavos, etc, são todas lendas similares e que não diferem muito das muitas lendas que existiram nos povos indígenas americanos ou tribos da África. Os Mistérios passam a ser portadores de uma nova esperança; não tudo está perdido e existe uma forma de salvação das injustiças, da dor e da miséria, se não nesta vida ao menos na outra porque ela existe; chega-se a ela por médio de uma morte mística num processo de iniciação após a qual o iniciando renasce para glória da divindade.

Os Mistérios da Índia parecem ser os mais antigos, fundados 50 séculos ac e se ocupavam principalmente da iniciação de seus sacerdotes com uma doutrina teogónica, a que estuda as relações dos deuses entre si e entre eles e os homens, e com estudos de física aplicada. Sacerdotes do Egito teriam sido iniciados nos Mistérios dos brahmanes, havendo-os introduzido no seu país 2900 anos ac. Os Mistérios egípcios tinham como finalidade instruir seus iniciados nos conhecimentos humanos e na metempsicoses, a teoria que admite a transmigração da alma de um corpo para outro, chegando um momento que atingiam todos os ensinamentos e fórmulas religiosas existentes. Este elevado desenvolvimento dos Mistérios egípcios fez que eles foram uma importante fonte que passou a outras nações do mundo antigo a influência de sus ritos sagrados e doutrinas secretas. Logo se desenvolvem os Mistérios persas, gregos, hebreus, romanos, etc., sendo os Mistérios mais conhecidos os de Orféu, Baco, Eleusis e Mithra. A difusão deles foi universal. Este interesse pêlos Mistérios faz nascer os Mistérios Menores e Maiores para incluir neles a todos os seres sem diferenças. Nos Menores era ensinada a moral e o secreto consistia em convencer os iniciados que o céu estava povoado por almas dos homens que se tinham distinguido pelo seu amor a Pátria. Estes Mistérios Menores eram os primeiros graus para iniciações mais elevadas onde nos Mistérios Maiores iram-se a examinar as ciências, os erros da metempsicoses, a natureza e suas obras, procurando recuperar a pureza primitiva da alma e corrigir suas costumes, elevando o espírito. Os Mistérios Menores formavam cidadãos virtuosos e os Maiores sábios e filósofos que iriam a servir de guias da humanidade. As iniciações eram muitas vezes, mais que simbólicas, provas duras e prolongadas durante dias, com risco real de vida. A iniciação mostrava o enigma do nascimento, vida, ressurreição e morte. No Antigo Testamento, tradução grega, a expressão mistério se encontra ligado com Jahve e subtraído da compreensão humana, mas no Novo Testamento muda o conceito e o mistério assume um sentido de cerimônia ritualística para os fiéis e de fácil aceitação.

A Maçonaria, no século XVIII, restabeleceu dentro de seus Templos, a tradição dos ensinamentos esotéricos ministrados nos Santuários Egípcios, da mesma forma como, os antigos filósofos egípcios, ministravam seus ensinamentos utilizando símbolos e alegorias. A cerimônia maçônica, na sua forma simbólica, guarda muita semelhança com a dos antigos Mistérios. Ela abre as portas a uma nova vida que é o inicio da compreensão dos Mistérios Maiores e coloca em evidência que a Doutrina Iniciática, nela manifestada, é a Doutrina Mãe, fonte inesgotável dos ensinamentos que nos aproximam de Deus.

NUMEROLOGIA

Entre os símbolos de mais inapreciável valor pela imensa riqueza do seu conteúdo, estão os números.

Etimologicamente, número deriva do latim numerus, sendo arithmós a expressão equivalente no grego. Conforme o dicionário, número expressa a relação existente entre magnitude e unidade; significa também signo ou conjunto de signos com que é representado o número aritmético.

Os números estão presentes em todas as atividades do ser humano e têm regulado o Universo e a Natureza desde seus primórdios através de seu poder de medir, regular, ordenar, coordenar, calcular, dirigir, etc

Na Natureza tudo obedece a princípios numerais tais como disposição das folhas de uma planta, o conjunto de alvéolos de um favo, a geometria de um cristal, o peso atômico e molecular dos elementos, a gravitação dos corpos celestes, todas as formas da mecânica e da eletricidade, etc. E na vida social e econômica dos povos não poderia ser esquecida nem por um segundo a influência dos números, presentes nos indicadores econômicos que dirigem a conduta dos diferentes grupos da sociedade, na medição do tempo desde as frações de segundo até os milênios das eras da história, nas estatísticas, nas transações comerciais e até nas manifestações culturais, tais como a poesia e a música, que precisam dos números para suas produções de harmonia e beleza.

O poder dos números se desenvolve desde as partes de um átomo até os mais longínquos e desconhecidos corpos celestes, demonstrando que seu poder infinito, que nossa mente não pode compreender mas que acredita nele da mesma forma que acredita na existência de Deus mas que não se tem, evidentemente, condições de demonstrá-lo.

A origem dos números se perde na noite dos tempos. Quando o número nasceu e quando ele virá a desaparecer, são incógnitas que o Homem não consegue responder. Somente sabemos que ele está junto a nos como um elemento importante, participando desde a ordenação do Universo até o controle dos menores detalhes de nosso dia a dia.

Medir e contar foram às primeiras atividades aritméticas do homem primitivo (25000 até 10000 ac). Fazendo marcas nos caules das árvores, os primeiros povos conseguiram a medição do tempo e a contagem do número de animais que possuíam; podemos falar que a Aritmética nasceu, mas passaram-se muitos séculos para que o Homem alcançasse um conceito abstrato dos números.

Os mais antigos documentos conhecidos sobre números são umas peças de barro cozido descobertas no século XIX em Nippur, cidade da antiga Caldéia, fundada pelos sumérios por volta de 3500 ac. Nestas peças estão gravadas operações de soma, diminuição, multiplicação, divisão e até potenciação; também figuram operações algébricas com equações de 2o grau que requerem um maior domínio da matemática elementar, mas não podemos supor que os caldeus tivessem uma conceituação abstrata das matemáticas. É extraordinário que estas peças contém operações da ordem de grandeza de 2 x 1015 (2 mil bilhões) sendo que na desenvolvida Grécia, Arquimedes sentia terror pelos grandes números.

Os caldeus tinham descoberto que o valor do número muda conforme a sua posição, dando origem assim a unidades, dezenas e centenas; mas, o curioso é que eles não usaram um sistema decimal e sim na base de 60, provavelmente devido a sua constante observação dos astros nos límpidos céus da Mesopotâmia, o que teria permitido a eles descobrirem um ciclo anual de 360 dias, igual a 60 vezes 6.

No Egito também encontramos vestígios de desenvolvimento de uma ciência matemática; no Papiro de Rhind, devido ao escriba Ahmos (1650 ac) se apresentam entre variados tipos de problemas, soluções de equações de 2o grau.

Mas é com o sábio, filósofo e matemático Pitágoras de Samos (século VI ac) que o simbolismo numeral alcança seu mais alto nível. Na Escola Pitagôrica o ensinamento fundamental, no grau superior, era a ciência dos números desde sua expressão mais simples e exotêrica até seu mais profundo significado passando pelos cálculos, regras matemáticas, matemáticas abstratas até os símbolos e imagens filosóficas.

Pitágoras não era, como se poderia presumir, um professor de matemáticas, e sim o maior filósofo numa era rica em filósofos e que usava os números e as figuras geométricas como simples representações simbólicas da construção arquitetônica do Universo, diferentemente das matemáticas desenvolvidas na Grécia, que eram do tipo utilitário para facilitar suas atividades comerciais.

Todos os filósofos importantes da Antigüidade acreditavam que os números têm um poder evidente e que tudo o que acontece no Universo deve-se a ação admirável dos números.

Pitágoras falava que tudo era constituído pelo número e que ele distribuía a virtude das coisas. Celso, filósofo do século II dc, famoso pelas suas críticas às interpretações alegóricas do Antigo Testamento como veículo de informação histórica, assegurava que o número persistia sempre e que se encontrava em tudo, na voz, na alma, nas coisas divinas. No Tratado da Filosofia Oculta de Agrippa, cronista do Imperador Carlos V, lê-se que os números simples significam as coisas divinas, os de dezena as celestes, os de centena as terrestres e as de mil as coisas dos séculos do porvir. Filolau de Crotona, (ou de Tarento), pitagórico ilustre da 2a geração, fala que tudo que pode ser conhecido tem um número e que, sem esse número, nada pode ser conhecido ou compreendido.

Conforme Aristóteles, os pitagóricos foram os primeiros que se ocuparam a fundo das matemáticas. O conhecimento profundo desta ciência fez germinar a opinião que os princípios das matemáticas eram também os princípios do ser. E como os números são, por natureza, o primeiro no campo matemático e os pitagóricos acreditavam ver nos números analogias com o que nasce e morre; eles falavam que os elementos dos números são elementos das coisas e tudo no mundo é harmonia e número. Mas, investigações posteriores provam que os pitagóricos não diferenciavam a determinabilidade numérica das coisas e a realidade das mesmas como número. Para eles as coisas eram números ou estavam feitas dos mesmos “elementos” que os números.

Existe um axioma da antiga sabedoria que diz “Deus geometriza” e os antigos acreditavam que a Geometria sempre atrai a alma para a Verdade. Platão (429-347 ac), ao estabelecer a sua Academia em Atenas, colocou a seguinte inscrição no frontispício: “Que ninguém entre aqui se não souber Geometria”. Pitágoras usou o axioma acima, como fundamento da sua filosofia, considerando que, se a Criação apresenta-se em perfeitas linhas geométricas, dentro delas deve ocultar-se o mistério do Cosmos e da própria Vida. Conforme o anterior, Pitágoras representava os números com pontos ordenados segundo módulos geométricos; assim, ele tinha números triangulares com os pontos distribuídos em triângulos (3, 6, 10, etc), quadrados (4, 9, 16, etc).

Toas as religiões reconhecem como objetivo de adoração uma Grande Divindade Suprema, criadora de tudo que existe, desde a origem dos tempos, quando nada existia. Nada dentro de um infinito vazio. Utilizando as matemáticas transcendentais e substituindo o Nada pelo Zero, temos que 1 : 0 = infinito ou 1 = infinito vezes 0.

Fixemo-nos nesta última expressão. Se no princípio existiam os elementos Zero e Infinito e o produto deles é igual a Um (Uno) o Um existiu simultaneamente ou, em outras palavras, os 3 (Um, Zero e Infinito) existiram sempre. Pode-se alegar que todo número dividido por Zero é igual a Infinito, mas nos estamos tentando demonstrar que o Um é a origem de Todo e é o Todo ao mesmo tempo. Por exemplo, o 3 está formado por 3 Unos, o 5 de 5 Unos e assim por diante; outro número não tem essa característica porque o 8, por exemplo, somente poderá formar múltiplos de 8. Salientando que tudo está formado por unidades, podemos levar esta teoria à formação do Universo com o Uno existindo simultaneamente com o Nada e o Infinito, e como Deus criou Tudo quando Nada existia dentro de um Infinito, deduzimos que a unidade representa a Deus é Uno e Uno representa o Grande Arquiteto do Universo. Pitágoras confirma esta assertiva quando escreve “O sábio para representar à Deus, escreve a Unidade”. Para os pensadores da Antigüidade o primeiro número impar é o 3, pois o Uno não é um número porque está reservado para a Divindade. A unidade como representação de Deus eleva-se ao nível de origem criador de tudo o que existe e, de outro lado, considerando os números em geral, eles são criações sucessivas e infindáveis do Uno.

Para reforçar o acima dito, recorremos à teósofa russa Helena Petrovna Blavatsky (1831–1891) que escreve: “Os números são uma das chaves das antigas cosmogonias no seu sentido mais amplo, tanto espiritual como fisicamente, e também da evolução da atual espécie humana. Todos os sistemas de misticismo religioso estão baseados nos números. O caráter sagrado dos números começa com a Grande Causa, a Unidade Universal, o Único, o Símbolo do Universo infinito e ilimitado”.

Adentrando nos simbolismos dos números, vimos, anteriormente, que a Unidade deveria ser considerada a fonte criadora de todos os números, pois sem necessidade de todos os números, por adição ele reproduz a todos; ele tem um poder de criação, um poder gerador total. A Unidade não tem partes, é estável, invariável, tudo o contém; se dividido ou multiplicado por ele, o resultado continua sendo ele e até suas potências e raízes são ele mesmo; por isso o Uno é considerado incorruptível, sendo estas duas últimas características mais duas razões para encontrar nele a representação da Divindade.

Para melhor conhecer o aspecto abstrato da Unidade vamos pensar que o Homem pode ser definido como se ele fosse formado de matéria e consciência, mas acontece que a relação entre a matéria corporal e a consciência não tem sido demonstrado pela experiência e, por tanto, está no campo da especulação; mas, se o Homem for considerado como um Todo, com reações físicas, químicas, fisiológicas e psíquicas, então o Homem é um Todo, no sentido amplo da palavra, é Uno sempre, até sua morte. De maneira similar, o Sol não deixa de ser Uno, pese que constantemente envia seus raios de luz; o quadro de uma Loja é sempre variável enquanto ao número de membros, mas a Loja continua sendo Uma. Com este simples exemplos tentamos demonstrar que a Unidade é uma abstração similar ao nosso centro íntimo conhecido como Ego.

E assim surge um outro elemento relacionado com a Unidade, de natureza psíquica e abstrata que constitui todos os seres e é conhecido como Mônada. Este elemento tem ocupado o pensamento dos grandes filósofos. Pitágoras concebia a “existência de um princípio absoluto, exterior ao tempo e ao espaço e portanto não manifestado na natureza e que recebeu o nome de Uno, Primeiro ou Mônada”. Giordano Bruno (1548–1600) que foi queimado vivo pela Inquisição, falava que “os indivíduos são Mônadas que em suas combinações produzem a harmonia universal; a Monas Monadum é uma substância única da qual os indivíduos são particularizações”. Para Leibnitz (1646–1716) que fora influenciado por Giordano Bruno, “o Universo constitui-se de substâncias simples ou Mônadas não extensas, contendo em si todo o passado e todas as determinações do futuro, só conhecidas integralmente pela Mônada suprema de Deus”. Em Numerologia, Mônada passa a ser sinônimo de Unidade.

Somando duas unidades ou Mônadas obtemos o número Dois, Duada ou Binário, que simboliza a capacidade geradora da Mônada. O Primeiro Livro de Moisés chamado Gênesis, no capítulo I, nos fala que Deus no primeiro dia fez a separação entre a luz e as trevas, no segundo fez a separação dos céus e da Terra, e na Terra, fez a separação das águas e da terra seca. Depois do sétimo dia, no Jardim do Éden, fez brotar a árvore da ciência do Bem e do mal; com bairro formou o Homem e, achando que não é bom que o Homem esteja só, de uma de suas costelas, criou a Mulher.

O Homem ficando confuso neste mundo de céu e Terra, terra e água, luz e trevas, e desejoso de ter o conhecimento de Deus, comeu do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, criando o primeiro binário filosófico. O Homem é lançado fora do Paraíso e começa a sua busca, tentando regressar à unidade primitiva. Mas a marca que deixou nele a árvore do bem e do mal não lhe permitirá jamais retornar ao Éden, ficando assim debatendo-se num mundo de contrários representado pelo número Dois.

Pitágoras simbolizou este caráter do número Dois, definindo que é o estado imperfeito a que cai o Homem quando é desprendido da Unidade ou de Deus. Aqui começa a aparecer o aspecto dual do Dois, pois igualmente como nos oferece a possibilidade do conhecimento da ciência do Bem, também podemos cair na fácil tentação da ciência do Mal, da ignorância e do atraso. Entendemos que o resultado final irá depender de nosso esforço, de nossa vontade, de nosso amor.

Os romanos distinguiram o perigo do número Dois, chamado por eles de “bis” que expressa a idéia de 2 vezes ou de 2 alternativas; o número Dois representava um mal inicio e os números que começavam com ele eram considerados como funestos. Também assim foi considerado pela Igreja Católica ao instituir o Dia de Finados no dia 2 de Novembro, segundo mês do Outono (Hemisfério Norte) quando a natureza começa a morrer no mês 11 do ano (1 + 1 = 2).

Mas nem tudo é terrível no número Dois. Devido ao seu poder de contrastes ele nos permite perceber objetivos ou realidades, diferenciando-as contra seus contrários; num mundo só de luz seriamos tão cegos com em um mundo dominado pelas trevas.

O Dois também é criador, pois para sair da ignorância precisamos estudar, quando estamos em dificuldades temos que nos esforçar para superá-las, para os problemas temos que procurar soluções, a natureza desenvolve um órgão para superar uma necessidade, uma peste origina novos descobrimentos médicos, etc. Por isto falamos que o Dois representa a ciência, pois para produzir o conhecimento precisamos de 2 elementos: um capaz de conhecer e outro que possa ser conhecido.

Para Mokiti Okada, da Igreja Messiânica, na Lógica Dialética da Harmonia, os contrários garantem a grande harmonia do Universo pela tendência natural de encontrar o ponto de equilíbrio ou “caminho de meio”, de tal forma que possibilitem o movimento evolutivo. Heráclito já dizia: “A realidade é a harmonia dos contrários que não cessam de se transformar uns nos outros”. Para Mokiti Okada os contrários realizam a harmonia do Uno em favor de todos.

Mas, de outro ponto de vista, do mesmo modo que o Uno representa a harmonia, a ordem e o bom princípio, o Dois oferece a idéia contrária: representa a divisão, a antítese que sempre nega, o espírito que recusa deter-se num abrigo a espera da tempestade passar; é a dúvida sistemática que nada aceita sem fundamentos; pode ser às vezes oposição impotente, a disputa perpétua. O Dois representa o opositor impotente, o espírito teimoso mas é justamente devido a isso que somos obrigados a estudar, a criar, a descobrir procedimentos sensatos em todas as atividades de nossa vida familiar e profissional. E se não tivermos a vontade, a capacidade, a ajuda para alcançar o conhecimento, a nossa fraqueza nos levará à esterilidade, ao fácil caminho do mal.

O mal às vezes aparece disfarçado por algumas características do bem, sendo esta outra face perigosa do Dois, que não estabelece um limite definido que separa os dois campos. Por exemplo, durante o dia recebemos a luz magnífica do astro Sol, mas no entardecer esta luz vai sendo vencida pelo avanço das trevas, chegando um momento que resulta difícil dizer se estamos no dia ou na noite, ficando na indecisão. Platão (428–348 ac) fala do dualismo filosófico do mundo das aparências sensíveis e do mundo das idéias; achando assim tão enraizado o sentimento da dualidade não devemos estranhar a dificuldade que sempre encontramos para chegar à perfeita compreensão da unidade fundamental do ser, de tudo quanto existe.

A Unidade acrescentada ao Dois revela o Três, terceiro princípio que é o Ternário. E o primeiro número que se separa da unidade e que equilibra as forças opostas; é o número que coloca justiça nos pares contraditórios.

Do choque entre nossa consciência individual Uno, e o mundo externo Dois, surge em cada um de nos uma representação que se traduz na consciência de um Ser Supremo, origem da vida e do mundo, conhecido como Deus. O Três é o número capaz de dar a solução ao que o número Dois é afirmação e negação; é o número que dá a síntese e dá na antítese. Tudo é triplo e único, em tudo achamos os três elementos; um agente que atua, um paciente que recebe e um efeito produzido; um primeiro termo ativo, um segundo passivo e um terceiro neutro ou de equilíbrio.

Os povos da Antigüidade consideraram o Três da maior importância. Para Virgílio

(70–19 ac) “omne trinum perfectum” (todo número 3 é perfeito). Os romanos e os gregos declararam que o número Três é um número agradável aos Deuses. Xenócrato, da Academia platônica antiga, representa a Divindade por um triângulo equilátero, primeira e mais perfeita de todas as figuras geométricas, já que tem 3 lados e 3 ângulos, simbolizando os 3 aspectos do Ser Supremo: a Vontade, a Sabedoria e a Inteligência. Como sabemos, o signo 3 está formado por 2 semicírculos que podem formar o círculo completo e que é o símbolo da Alma, o princípio que reúne em si mesmo, o oculto e o manifestado.

Em outra analogia, imaginemos duas pessoas discutindo e cada uma delas mantendo vigorosamente seus pontos de vista, contradizendo tudo o que o oponente expressar; ambos podem estar errados e a verdade nunca aparecer senão houver um terceiro elemento analisador, que não outro que a razão, simbolizado pelo número Três. O Ternário, princípio da razão, constitui um sistema de conhecimento e por isto expressamos que o número Três é o aspecto mais inteligente da Unidade.

O Quatro é a cifra básica do mundo sensual e objetivo. Os pitagôricos glorificaram o Quatro porque representa o primeiro quadrado dentro do sistema de representação dos números em base a pontos, figura denominada tretractys, pela qual juravam.

Os pitagóricos criaram a aritmonancia que era uma espécie de adivinhação usando os números e nela acreditava-se que o Quatro estava encerrado na alma do Homem. Conforme outro simbolismo primitivo o Quatro representava a essência da justiça. Para os hebreus, era o símbolo do princípio eterno e criador, e expressava a nome de Deus que em hebreu é escrito com as quatro letras Iod, He, Vau e He.

A Maçonaria, considerando a importância dos números, tem levado seus membros ao estudo da gnose numeral desde o primeiro grau, tentando descobrir e analisar as propriedades intrínsecas dos números utilizando a razão e aplicando este conhecimento para resolver o problema da existência das coisas.

O maçom adorna geralmente sua assinatura com 3 pontos, representando que, conhecendo a Unidade e o Binário, chegou à compreensão do Ternário. O Ternário é o mais importante alicerce filosófico da Ordem maçônica e nos Templos é o número que mais se encontra representado através de símbolos, lembrando a cada momento aos maçons a maneira certa de sentir, pensar e atuar, tendo como metas a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.

O TAROT

Conta a lenda que os sábios de Egito, frente ao avanço dos exércitos invasores, quiseram preservar todos os conhecimentos indicativos que eles eram detentores. E para guardar da forma mais segura estes conhecimentos para as futuras gerações, decidiram recorrer ao vício do homem, já que a virtude no ser humano é mais frágil que um copo de fino cristal. O vício escolhido foi o jogo. Então todos os conhecimentos iniciáticos foram simbolicamente guardados nas cartas que, eternamente servindo para fins de jogo, nunca seriam destruídos, passando de geração em geração e sempre disponíveis para que os futuros iniciados poderem no futuro decifrar e utilizar estes conhecimentos.

No século 14 os naipes do Tarot aparecem na Europa, sabendo-se que os ciganos da Hungria passaram seu conhecimento para os ciganos da Espanha e, por um tempo acreditou-se que aqueles eram os inventores do Tarot. Outra versão atribui sua invenção a Raimundo Lulio, filósofo e alquimista do século 13, mas na verdade, ele só escreveu um esquema de uma máquina que consistia em círculos concêntricos com palavras que designavam idéias quando elas colocadas em certa posição para formulação de uma pergunta, outras palavras da máquina estariam dando a resposta. Como pode-se ver, é diferente do Tarot.

Os jogos de Tarot existentes apresentam figuras da época em que foram criados. Em geral eles estão compostos de 78 cartas, distribuídas em 3 partes: a primeira são 21 cartas, a segunda só 1 carta sendo o elo entre a primeira e a terceira, e esta última parte que não passa de ser um naipe comum. A primeira e segunda parte formam os conhecidos como Arcanos Maiores (Arcano = que encerra mistério, apocalíptico, cabalístico, enigmático; o que não se pode desvendar). Estas características do Tarot fizeram dele um elemento facilmente utilizado nas práticas de adivinhação popular, cumprindo assim uma das supostas intenções dos sacerdotes egípcios para que ele sempre estivesse em uso nas mãos da sociedade.

De todos os baralhos de Tarot o mais significativo enquanto a simbolismo, é o Tarot egípcio que praticamente representa uma iniciação. Cada carta do Tarot egípcio vai desenvolvendo este processo que um candidato participa e vai começando a entender o significado da vida. O Tarot tem também uma estreita ligação com a Cabala e a Alquimia; a Árvore Sefirótica e os 4 elementos da Alquimia estão presentes nas cartas do Tarot.

A CABALA

O verbo judaico está estruturado na Torah, no Talmud e na Cabala:

A Tora, que representa a Lei judaica, é a palavra por excelência inspirada por Deus e está composta pêlos 5 primeiros Livros da Bíblia, também conhecido como Pentateuco : Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

O Talmud complementa a lei escrita e interpreta os mandamentos à luz da evolução social, política e econômica. Foi escrito entre os séculos III ac e VI dc. Existem 2 Talmudes: o Talmud de Jerusalém e o Talmud de Babilônia, sendo este último o mais completo. O Talmud compreende 2 livros, Mishná e Gemara, e cada um deles trata dos assuntos seguintes :

Mishná Zeraim (sementes) questões agrícolas

Moed (festas) Sabath, jejum, solenidades

Nashim (mulheres) noivado, casamento, divórcio

Nezikim (prejuízos) jurisprudência civil e penal

Kodashim (coisas santas) sacrifícios, ofertas, abate de animais

Toharoth (purificação) regras de pureza

Gemara Ensinamento tradicional São comentários à Mishná

A Cabala é um sistema de interpretação da Bíblia judaica. As fontes da literatura e da doutrina cabalística, são as seguintes :

Apocalipse (Bíblia)

História da Gênese (Ma’assé Berechit) (não é livro)

História do Trono (Ma’asse Merkabá) (não é livro)

Livro da Criação (Sepher Yetsira) séc III e IV dc (explica a Árvore da Vida)

Livro do Esplendor (Sépher há Zóar) s. II dc, Simeon bar Yohai, e s, XIII Moshe de León

Sendo a Bíblia um livro hermético, os estudiosos do povo hebreu se debruçaram no seu texto para ensinar corretamente seu significado ao povo, tanto para os que moravam em Israel como os que se encontravam no exílio, mantendo assim os judeus junto a suas tradições, no estrito cumprimento da Tora, política que deu ao povo judeu sua fisonomia definitiva, mantida até hoje, sem diferencias do lugar e das condições em que eles possam-se encontrar. Por outro lado, os textos da Bíblia estão carregados de alegorias, literatura imaginativa, descrições diferentes para os mesmos fatos e, inclusive, ao passar para diferentes línguas foram usadas palavras que alteraram o relato original. Este sistema desenvolvido pêlos dirigentes religiosos para manter viva a chama mística, com a mente fixa em Israel, fiéis a seu Deus e a suas tradições, recebe o nome de Cabala; a tradução mais aceita para Cabala é “Tradição”. Os ensinamentos dos cabalistas foram inicialmente orais, mas aparentemente eles começam bem antes da Bíblia existir, quando começam ensinando os acontecimentos da história dos hebreus. Os cabalistas afirmam que sua doutrina emana de Deus, que a ensinou aos anjos e eles a transmitiram aos Patriarcas e assim sucessivamente.

Ninguém sabe quando nasce a Cabala. Autores assumem que ela é anterior ao próprio povo hebreu, o que poderia ser um exagero já que se for assim, a Cabala antecederia a Moisés em mais de 2500 anos. Através da história a Cabala passa por diversas etapas e vai assimilando conceitos que levam até uma interpretação própria do povo hebreu e que serve de base, junto com a Torah e o Talmud, do Verbo judeu.

A estrutura original da Cabala está em duas histórias: a história da gênese e a história do trono ou carro. A história da gênese é a discussão favorita dos primeiros cabalistas já antes da destruição do 2º Templo (de Zorobabel); a história do trono ou do carro é a primeira manifestação mística da Cabala e data dos séculos I e II dc. Usa a alegoria do trono puxado por 4 querubins, mencionado pelo profeta Ezequiel, (ele tem rodas e por isso é conhecido também como o carro) que percorre os céus e que é interpretado como uma alegoria da alma em procura de Deus.

Do séc III ao séc VI dc, o estudo da Cabala já é primordial dentro do pensamento religioso judaico. Surge o primeiro livro conhecido sobre a Cabala: O Sefer Ietzi-rah (Livro da Criação), autor desconhecido, onde é explicado a Árvore da Vida com as 10 sephirot (esferas) e as 22 linhas retas que unem as 10 esferas e que representam as 32 maravilhosas sendas místicas da Sabedoria, pelas quais Deus criou o mundo. As 10 esferas representam a série dos 10 primeiros números e as 22 linhas são as 22 letras do alfabeto hebraico. Conforme relato atribuído a Abraão, existe o Espirito tornado Palavra (Verbo) que é a primeira sephira (esfera) e dela emana a segunda esfera que é o ar e que cria através do sopro divino as demais esferas que são a 3ª a água, a 4ª o fogo e as seis últimas os 4 pontos cardeais e os 2 pólos. No Livro da Criação se inicia a preocupação dos cabalistas com a numerologia e uso das letras na interpretação de significados ocultos; estas 22 letras e 10 números podem ser combinados de três maneiras: notarikón (acrósticos de expressões ocultas), guematria (atribui valores numéricos as letras) e temurah (permuta palavras por anagramas).

Na Idade Média, o centro cultural do judaísmo se traslada a Espanha onde surgem as maiores inteligências que o judaísmo já teve. É com eles que a Cabala alcança um impulso notável. Em 1275 (aproximadamente) aparece o Livro do Esplendor (Sefer ha-zohar) que parece ser uma compilação de várias obras, sendo algumas delas apócrifas; mas existe unanimidade hoje em acreditar que a autoria de muitas obras e a compilação do Zohar corresponde a Moisés ben Shem Tov, chamado em espanhol, Moisés de León (1250-1305).

No Zohar as 10 sephirot adotam a figura humana, simbolizada por Adam Kadmon, o demiurgo, o criador da natureza, o homem perfeito, mensageiro de Deus, Messias, reflexo da alta espiritualidade, corpo considerado como a marca da alma, o Adão celeste, o Grande Ancião do Zohar, à semelhança do qual foi criado o Homem.

As sephirot são comparadas no Zohar aos membros do corpo humano e dispostas em grupos de três. A primeira esfera é o kether (coroa) situada na cabeça e que é a essência divina espiritual; nela nascem 2 outras esferas: a chokmah, que é a sabedoria e a binah, compreensão, inteligência. Da união de ambas ha de nascer um filho, o daath, que é o conhecimento, a ciência; esta tríade recebe o nome de chabad, fundamental para elucidar os mistérios do universo. As duas esferas seguintes são os braços de Deus: guedulah, grandeza, ou chesed, graça, que está no lado direito, simbolizando o amor, e geburah, heroísmo, ou din, justiça, que está no lado esquerdo que é o rigor. Ambas se equilibram num sentimento de justiça e misericórdia. A sexta esfera no centro é tiphereth, beleza, que ao se unir as anteriores formam uma nova tríade de harmonia. Uma nova tríade formar-se-á com as esferas seguintes que são netza, eternidade, hod, glória, majestade, e iesod, fundamento, base. A 10º esfera é uma síntese das demais, malkuth, realeza. (Alertamos que as transcrição das palavras do hebraico antigo difere de uma obra para outra, por exemplo, Hokhmah, Chochmah, Chokmah ou Hokmá; que são a mesma palavra; também muitos reclamam que a pronúncia correta é Cabalah, acentuando na última sílaba, mas no português nos pronunciamos Cabala da mesma forma que pronunciamos Londres e não London).

Resumindo temos: 1) O mundo da inteligência (Kether-coroa, Chokmah-sabedoria e Binah-inteligencia); 2) O mundo do sentimento (Chesed-graça ou amor, Din-justiça e Tiphereth-beleza) e 3) O mundo da natureza (Netza-triunfo, Hod-glória ou majestade e Iessod-fundamento). A 10ª esfera, Malkhult, encerra o conteúdo das outras nove para serem ensinadas aos homens.

Também o Zohar classifica as esferas conforme sua localização nas colunas verticais da direita (masculina ou da misericórdia) e que são Chokmah, Chesed e Netza, da esquerda (feminina ou da severidade) Binah, Geburah e Hod e do centro (conciliação ou da suavidade) que são Kether, Tipheret, Iessod e Malkult.

E que é a Árvore da Vida ao final? É o esquema da Criação (Sefer), é a representação do Homem desde o infinito que está acima de sua cabeça, até os seus pés, recebendo cada parte do corpo uma designação cabalística. As sephirot são os centros de energia existentes e, unidas, representam os nomes de Deus, a Árvore da Vida é o criador, e a criatura é a explicação do origem do Universo.

E qual é a relação entre o Zohar e a Cabala? Os místicos judeus consideram o Zohar como a obra que melhor representa as regras e preceitos da fé judaica; está formado por histórias, discursos, meditações e monólogos, com muitos símbolos e alegorias místicas, tendo assumido uma importância igual a do Antigo Testamento e ao Talmud e substituiu toda a literatura cabalística anterior. Os místicos acreditam ver o origem da palavra Zohar no Livro de Daniel, cap 12 vers 3, que fala “Os entendidos (os místicos judaicos), pois, resplandecerão, como o esplendor do firmamento (Zohar); e os que a muitos ensinam (os cabalistas) refulgirão como as estrelas sempre e eternamente”.

Autores procuram ver a Cabala aplicada no Templo maçônico, atribuindo a Elias Ashmole a localização dos cargos principais de uma Loja, acompanhando a Árvore da Vida com suas esferas para o V M (Kether), Secr (Hockman), Or (Binah), Chanc(Chesed), Tes(Geburah), MC(Thipheret), 2º V (Netzah), o Iniciando (Iessod) e Cob(Malkult). José Castellani na sua obra “A Ciência Maçônica e as Antigas Civilizações” discorda absolutamente desta pretensão, concluindo que é uma deturpação da concepção metafísica contida no Adão Kadmon, para adaptá-la a simbologia maçônica.

Eu entendo que os Irmãos, no seu amor pela maçonaria queiram ver em toda ciência sagrada as raízes ou a influência da simbologia maçônica. Na verdade, não é bem assim: A Maçonaria foi criada, em uma data ainda não determinada, adotando muitos símbolos contidos nas ciências iniciáticas da antigüidade. Somos parte de um legado deixado pêlos sábios do passado. E assim tem acontecido com todas as escolas filosóficas e religiões que tem surgido para culto de Deus e elevação da espiritualidade do homem. Somente como exemplo, a Escada de Jacó tem sido utilizada pelas mais diversas religiões e também pela Maçonaria e a própria Cruz, é um símbolo antigo que a Igreja Católica adota somente 3 séculos após a morte de Jesus.

E porque, nós maçons, devemos estudar a Cabala, o Tarot, a Astrologia, a Alquimia, os Solstícios, os antigos Mistérios, os filósofos gregos, Bíblia, etc? Porque lá se encontra o que de melhor produziu o homem no desbastamento da sua Pedra Bruta. Porque é assim que estaremos em melhores condições de freqüentar nossa Loja, levando e trazendo espiritualidade e conhecimentos que melhorem nosso interior e nos aproximem de Deus e de nossos semelhantes. E, finalmente, como diz Dion Fortune, “estaremos bebendo da água mais pura”.

 

Capítulo 25

O Delta Sagrado

 

O neófito, quando despojado da venda que cobria seus olhos, percorre com sua vista os diversos símbolos que estão na sua frente e, entre outros, se fixa no Delta Sagrado e por alguns segundos sente-se inerme frente a Divindade que, do alto, faz sentir toda sua onipresença; é como a nossa consciência que nos acusa pêlos erros cometidos ou aprova as nossas boas ações. Sente-se inerme tal como se sentiram os egípcios, gregos e romanos quando se aventuraram por esses caminhos perigosos nas cerimônias iniciáticas pela qual ele, 5000 anos mais tarde, também acaba de passar. Usar o Delta com o Olho não é antigo e parece que somente apareceu na Maçonaria no início do séc XIX.

O nome de Delta acompanha o nome da 4a letra do alfabeto grego, dada sua similitude gráfica. Em nossas Lojas, ele é um triângulo equilátero, figura muito conhecida em todas as religiões e considerada uma figura geométrica perfeita pelo seu equilíbrio, igualdade e perfeição ou harmonia. Para alguns autores, o triângulo é o símbolo universal das leis particulares que tem produzido a substância. Conforme Mackey (maçom e pesquisador norte-americano do s. 18), para os egípcios o triângulo era o símbolo da natureza universal, a base representando Horus, a perpendicular a Isis e a hipotenusa o filho Horus, gerado pelo princípio masculino e feminino. Plutarco e Senócrates, comparavam a Divindade com um triângulo equilátero porque Ela é sempre perfeitamente igual em cada uma da suas manifestações; o triângulo isósceles é o gênio nunca totalmente perfeito e o triângulo escaleno vem a ser o homem com todas as suas imperfeições.

O Triângulo pode ter no seu centro o “Y” místico dos Druídas, o “Iod” sagrado dos hebreus (também pode estar todo o Tetragrama), “G” simbólico dos saxões ou o Olho aberto que tudo vê e, apesar da variação de emblemas usados, sempre estará Deus representado, na sua tríplice manifestação: vida, verbo e luz. O Olho é característico do Rito Moderno, a letra “Iod” é usada nos Ritos Escoceses, de York, Adonhiramita e Ritos deístas ou teístas em geral. A diferença dos outros Ritos, no Rito Moderno o Delta representa a Suprema Sabedoria. Em nossa Loja existem dois Triângulos: na frente do dossel do Trono do Venerável Mestre temos um Triângulo com a letra “Iod” e na parede do Or, sob o dossel, entre o Sol e a Lua, está o Triângulo com o Olho que tudo vê; “... são os olhos do SENHOR, que percorrem toda a terra.” (Zacarias, 4-10) ou “... os olhos de Deus estavam sobre os anciãos dos judeus, “... (Esdras, 5-5). O Olho está dentro de uma chama raiada que simboliza o princípio criador e conservador da vida.

Também o catolicismo na sua iconografia, representa Deus utilizando um triângulo equilátero com um olho aberto no centro, relacionando assim a perfeição divina (o triângulo equilátero) com a onipresença (o olho). Sua origem estaria no desenho usado como reconhecimento dos primeiros cristãos e que era um peixe. Dizem que Jesus desenhou um peixe no chão o que, posteriormente, seria usado como símbolo pêlos seguidores da nova religião. As iniciais das palavras gregas correspondentes à frase “Jesucristo filho de Deus, o Salvador” formariam ICTES em latim, que significa peixe.

Se desenhar dois círculos que tenham o centro respectivamente num ponto da circunferência do outro, ficará uma área comum de forma elíptica que lembra a forma de um peixe ou de uma bexiga; daí foi dada a esta figura o nome de Vesica Piscis. A figura do rombo de extremos pontiagudos que se forma dentro da Vesica Piscis também lembra a figura estilizada de um peixe e em antigos manuscritos e construções da Idade Média aparece freqüentemente. Cristo é simbolicamente esta região que une o céu e a terra, o superior e o inferior, o criador e a criação. Também, dentro desta seção, podem ser construídos dois triângulos de base comum, símbolos da água e do fogo, e que em seu conjunto formam o mesmo losango que formam o esquadro e o compasso no Livro da Lei. As duas circunferências unidas lembram a forma básica da matéria que da origem a uma nova vida; é a célula que cria dois centros, parte-se e da origem a uma nova célula. Outra forma de considerar a Vesica Piscis é uma representação do reino intermédio que faz parte tanto do princípio imutável, como do mutável, do eterno e do efêmero. A consciência humana funciona como mediadora, equilibrando os dois pólos complementares da consciência. Esta forma elíptica é também a designação simbólica da Era de Peixes, sendo a figura geométrica dominante neste período de evolução cósmica e humana, e o principal elemento usado nas catedrais góticas dessa era. A Era de Peixes se caracterizou por ser a encarnação formal do espírito na forma, aprofundando assim a materialização do espírito : o mundo se faz carne.

Eis porque o Olho dentro do Delta Sagrado é o símbolo de Deus.

 

Capítulo 26

As Velas

 

A vela é um cilindro de cera, sebo, espermacete ou outra substância graxa com um pavio no centro acompanhando todo o comprimento do cilindro para que ele possa acender e dar luz. As velas são normalmente fabricadas de estearina que é uma substância química, branca, funde a 64.2 graus centígrados, insolúvel na água e está composta de ácido esteárico e glicerina. Outras matérias muito usadas na fabricação de velas são a parafina e a cera de abelhas.

Interessante é notar que, as velas usadas nos tempos antigos para iluminar os ambientes, após o invento da luz elétrica não caíram em desuso e sim, seu uso multiplicou-se com fins de culto as almas por parte dos crentes, homenagem aos santos e para usos ritualísticos tanto religiosos como em outros cultos, não sendo a Maçonaria uma exceção a esta regra.

Para entrar no conhecimento místico de uso das velas em Maçonaria temos que lembrar que o fogo é um dos quatro elementos do mundo antigo e que ele tem um conceito de purificação total: “... para que de profano nada lhe reste” conforme lembramos da nossa cerimônia de Iniciação. Desde épocas remotas a luz tem sido símbolo de sabedoria e conhecimento, com estreito relacionamento com o Sol e, como o Sol nasce no Oriente e, coincidentemente, a sabedoria dos sábios, filósofos e Messias, tem tido seu berço no Oriente, dai a relação entre luz e sabedoria que vem do Oriente.

A luz simbolizando a Sabedoria e o fogo simbolizando a purificação dos pecados estão representados na ritualística maçônica, tanto através do Sol, no fogo purificador já mencionado, no Delta Sagrado como nas velas nos altares. Praticamente todos os ritos maçônicos usam as velas sendo os que mas tem dado importância a elas são o Rito Adonhiramita e o Rito de York. Mas, em todos os Ritos as velas estão presentes, no mínimo, iluminando os altares e na cerimônia de recepção de visitantes ilustres, quando sob o comando do Mestre de Cerimônias são formadas as comissões de espadas e estrelas (que são velas acesas).

Considerando que a abelha é um símbolo de laboriosidade e que o produto de seu trabalho torna a vida do ser humano mais doce, as antigas Lojas de pedreiros usavam nas suas velas unicamente cera de abelhas; com o avanço da civilização a produção de material para velas foi mudando para outros produtos industriais e lamentavelmente hoje são poucas as Lojas que se preocupam com o material das velas havendo, a maioria delas, substituída as velas autênticas por lâmpadas elétricas com formato simulando uma vela. A Ritualística não existe por acaso. Cada símbolo tem uma razão de ser e o conjunto deles cria um campo espiritual propício para nossas preces ao Grande Arquiteto do Universo. O não uso de velas confeccionadas com cera de abelhas ou, pior ainda, a substituição de velas por lâmpadas elétricas vai matando aos poucos a Ritualística que nossos antepassados criaram séculos atrás e que deveria ser a nossa obrigação manter e legar a nossos sucessores da forma como recebemos.

O acendimento de uma vela em Loja deve ser feito com outra vela, previamente acesa, ou com fósforos, não sendo ritualisticamente correto usar isqueiro ou outro elemento moderno que no passado não existiam. Da mesma forma a vela deverá ser apagada com um abafador; discute-se se apagar a vela assoprando nela seria um ato profano considerando-se como a intenção de desintegrar a luz (José Cássio Simões Vieira, Bol. do GrSão Paulo, 20-Abril-1995), recomendando-se usar o abafador mencionado ou os dedos umedecidos.

 

Capítulo 27

As Espadas

 

Sendo a espada uma arma branca ofensiva e defensiva, usada durante séculos na vida militar, acaba resultando um tanto difícil explicar sua presença na ritualística maçônica. Mas é justamente esta arma de luta que simboliza melhor na Maçonaria a luta constante pelos princípios do Bem e na mão esquerda como elemento que lembra nosso juramento de ir em proteção dos membros da Ordem em situação de perigo; a importância desta última razão, o iniciando vê desde o mesmo momento que é despojado da venda; mas, também, essas mesmas espadas poderão castigar a quem for perjuro no seu juramento e nesse caso, a espada será tomada com a mão direita.

A História ensina que o momento mais sagrado e de orgulho para o recém iniciado cavaleiro na Idade Média é quando ele recebe sua própria espada e a Ordem de Cavalaria em seus princípios “chamava os cavaleiros a defender a Pátria e amparar as viúvas e órfãos” como os mais sublimes deveres do cavaleiro recém ungido. Assim, a espada é elevada à símbolo moral da consciência do maçom, que deve vigiar permanentemente seus atos.

Durante a cerimônia da iniciação, o tinir de espadas é ouvido representando as lutas que acontecem em nosso redor; é o emblema dos combates que o Homem deve enfrentar permanentemente contra suas paixões, seus vícios, seus defeitos, suas tendências negativas, etc, devendo lutar para corrigir seus erros e se afastar dos vícios. E na parte final, quando o Venerável Mestre da aqueles golpes com a Espada Flamígera, da mesma forma que o Rei dava aqueles golpes nas costas do recém armado cavalheiro, o recém iniciado está sendo ungido Cavaleiro do bem e da Moral, para lutar por Deus, sua família, sua Pátria e a sociedade. Lembramos que a Espada Flamígera deve ser tocada unicamente por Mestres Instalados (Mestres maçons que são ou foram Veneráveis Mestres de Loja) já que a simbologia dela indica que sendo sua lâmina uma língua de fogo, um irmão que não passou pelas provas de um Mestre Instalado poderia ser queimado por ela.

O aço da Espada nos lembra que nosso espírito deve ter a mesma dureza desse metal.

 

Capítulo 28

A Maçonaria e a Mulher

 

No artigo III (segundo parágrafo) da primeira Constituição de Anderson, lemos: As pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser Homens de bem e leais, nascidas livres, e de idade madura e circunspecta, nem escravos, nem Mulheres, nem Homens sem moralidade ou de conduta escandalosa, mas de boa reputação.

Já nos Regulamentos compilados por Georges Payne, aprovados em 1721 e que, historicamente, tem formado um corpo só com a Constituição de Anderson, aparece no artigo XXXIX á obrigação de preservar cuidadosamente os velhos Land-Marks. Nos anos seguintes, os estudiosos da maçonaria debruçam-se para descobrir quais são estes Land-Marks, e de todas as listas que são emitidas, a Grande Loja Maçônica de São Paulo adota a de Albert Mackey, que em seu Land-Mark número 18 estabelece as condições para um candidato ser aceito na Maçonaria concluindo que uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade.

Durante todos os séculos da Maçonaria Operativa, parece não existir antecedentes de alguma mulher tem pretendido ingressar na Maçonaria. Lembremos que nossos antecessores eram autênticos pedreiros e que desenvolviam um esforço físico considerável em uma época que a função da mulher estava relegada ao lar. Lembremos que as Lojas de autênticos pedreiros, a partir do século 17, reuniam-se em tabernas, locais onde era absolutamente impossível contar com a presença de uma mulher. Charles Johnson escreve em 1723 que a rainha Isabel de Inglaterra, protetora das artes, ficou inimiga da Maçonaria porque, pretendendo ingressar nela, recebeu a resposta que em razão de seu sexo, não lhe seria possível. Fato similar acontece com a Imperatriz Maria Eugenia de Austria.

Mencionamos algumas insólitas histórias de mulheres que foram iniciadas em Lojas regulares, sendo estes, casos excepcionais e curiosos, produtos de um errado entendimento dos usos e costumes da Ordem, mas que não podem ser considerados como prova de que no passado a Maçonaria tem aceito mulheres.

Elisabeth Saint Leger, mais conhecida pelo seu nome de casada, Lady Aldworth, filha do Visconde Doneraile, havendo surpreendido uma reunião maçônica da Loja 95, de Cork (Irlanda), no castelo paterno através de uma parede que estava sendo reparada, foi iniciada para jurar guardar secreto. A esposa do General Xaintrailles nomeada Capitão de Cavalaria e aide de camp de seu marido e que participava nas batalhas com muita bravura foi iniciada na Loja Les Frères Artistes, de Paris (França), pensando-se que era um homem, o capitão Xaintrailles. O cavaleiro d’Eon, francês, foi iniciado na Loja 376, que trabalhava na França, sob a obediência da Grande Loja de Inglaterra (dos Modernos). Frente aos rumores cada vez mais fortes que seria mulher, em 1977 confessou seu verdadeiro sexo recebendo a ordem judicial de usar roupas femininas, e aparentemente nunca mais visitou a Loja. Na Hungria, Helene Barkocsy, casada com o Conde de Hardik, herdou os bens de seu pai, que era maçom, incluindo uma biblioteca maçônica onde ela adquiriu conhecimentos e um grande interesse pela Ordem, obtendo sua iniciação na Loja Egyenlossy do Grande Oriente da Hungria em 1875; mas, quando esse Grande Oriente ficou sabendo do ato irregular procedeu disciplinarmente em contra da citada Loja e a Condesa de Hardik foi eliminada.

Com o desenvolvimento da Maç, o ingresso nas Lojas de nobres e intelectuais, as informações que enchem os jornais europeus sobre a Ordem excita a curiosidade de muitas damas da época, que começam a questionar os motivos que poderiam existir para elas não poderem ingressar. Principalmente na França, foram criadas algumas organizações que tentavam imitar uma loja maçónica. Na impossibilidade de superar a proibição de mulheres ingressar na Maçonaria foi utilizado o esquema de criar lojas chamadas de adoção, dependentes de uma loja regular, na qual poderiam participar homens e mulheres. Estas lojas andróginas desenvolveram atividades mais do tipo social e de caridade, seus locais de reunião recebiam o nome de Bosquecinhos ou Templos do Amor, e as mulheres iniciadas se chamavam de primas ou amigas. Também existiu, na Alemanha, a Ordem dos Mopses, um cachorrinho como símbolo da fidelidade, organização muito popular entre as mulheres. Damas, princesas, duquesas, condessas, toda a nobreza feminina participavam dela. Satisfazia a curiosidade das damas com seus rituais pomposos e destacando que algumas desenvolveram atividades de tipo intelectual com palestras de escritores, concertos, prêmios para ações de caridade sobressalentes, etc., mas todas elas eram carentes de princípios filosóficos. Em 1782 aparece Cagliostro que cria seu Ritual da maçonaria Egípcia, nitidamente andrógina, com sua mulher como Grã Sacerdotisa do Rito. Estas lojas de adoção terminaram com a revolução recuperando sua força com a Imperatriz Josefina mas todas elas acabaram desaparecendo com o período da Restauração.

Apagado o luxo e esplendor da corte francesa, vem um período de pouca atividade feminina na para-maçonaria. Até aparecer no século 19, três mulheres extraordinárias, de elevado nível intelectual, ardentes feministas que, dentro de todas as atividades que elas desenvolvem também participaram (ou pretenderam participar) na Maçonaria. Estamos falando de Marie Deraismes (1828-1894), Helena Petrovna Blavatsky (1831-1891) e Annie Besant (1847-1933). Marie Deraismes solicita em 1881 seu ingresso na maçonaria francesa. A Lde Pucq aprova sua solicitação, retira-se da Grande Loja da França e inicia a Marie Deraismes em 14 de Janeiro de 1882. Mas 5 meses depois, a Loja se arrepende e volta ao seio da Grande Loja. Marie Deraismes funda sua própria potência e em 4 de Abril de 1893 nasce a Grande Loje Symbolique Ecossaise Le Droit Humain. O médico Georges Martin e sua esposa, amigos de toda a vida de Marie Deraismes, na morte dela, assumem a direção dos Direitos Humanos. Por sua parte, na tradicional Inglaterra, é uma discípula de Helena Blavatsky, Annie Besant que funda em 1902 a Order of the Universal Co-Masonry in the British Federation. Annie Besant e 6 seguidoras tinham sido iniciadas na Direitos Humanos de Paris. Nascem Direitos Humanos em USA e em outros países, só que nenhuma delas, obviamente, é reconhecida como Loja regular. Hoje em dia existe na Inglaterra a Honorável Fraternidade da Maçonaria Antiga, que trabalha em um rito conhecido como Emulation e está composta unicamente por mulheres. No Brasil também existem Lojas femininas dependentes da Federação Brasileira “O Direito Humano” que se auto-intitula como Ordem Maçônica Mista Internacional “Le Droit Humain” e declara ser constituída de Franco-maçons de ambos os sexos, e que na sua Declaração de Princípios afirma a igualdade essencial do homem e da mulher, e ao proclamar seu nome Direito Humano, pretende que eles vivam a Justiça Social. Com sede em Paris, Le Droit Humain afirma que está presente em 60 países. Seus rituais declaram ser idênticos aos da Maçonaria Regular mas com ênfase especial no culto da fertilidade.

Recentemente apareceu um artigo na Internet, publicado por um maçom de Brasília, Ivan Barbosa. Ele defende a participação da mulher na Maçonaria e fala que antigamente era uma prática comum o ingresso delas na Ordem. Culpa a James Anderson, colocando nele toda a responsabilidade pela exclusão da mulher na Maçonaria e negando inclusive a condição de maçom de Anderson chega a usar o epíteto de "falso maçom".

Como já falamos no Capítulo 4, Anderson foi incumbido de colocar as velhas Constituições Góticas em ordem, aproveitando os manuscritos existentes e em 25 de Março de 1722, foram lidos a Constituição de Anderson e o relatório da Comissão Revisora sendo ambos aprovados com pequenas modificações.

Temos dado todos estes detalhes da geração do documento mais importante da Maçonaria moderna para destacar que sua geração foi um processo de quase 3 anos, que envolveu a Ordem toda, não podendo dizer que foi criação de "um Presbítero seguindo sua própria inclinação". Ivan Barbosa cita ainda o Ir Miguel André Ramsay falando que "Muitos de nossos ritos e costumes, quando contrários aos reformadores (refere-se as 4 Lojas que em 1717 fundam a GLondres) foram mudados disfarçados ou suprimidos, e desta forma, muitos Irmãos lhe esqueceram o âmago, restando apenas a parte externa". Desta frase o sr Barbosa deduz implicitamente que uma das modificações seria a exclusão da mulher na Maç\parAndré Miguel de Ramsay, Cavalheiro da Ordem de São Lázaro, investido pelo Regente Filipe de Orleáns, era um dos principais membros da numerosa colônia de exilados escoceses residindo em París sendo partidário de Jacobo III, o Pretendente ao trono de seu pai Jacobo II da dinastia dos Estuardo. Ramsay foi iniciado na Loja Horn, de Westminster em 17 de Março de 1730. Com motivo de uma cerimônia de Inic na G L da França, a ser realizada em 21 de Março de 1737, Ramsay na sua qualidade de Or preparou um discurso, mas conforme as ordens policiais da época enviou previamente uma cópia do discurso ao cardeal Fleury quem o devolveu com uma nota escrita na primeira página: Le Roi ne le veut pas. Assim o discurso ficou oralmente inédito, mas passou para a história pelos conceitos neles emitidos, inclusive fala-se que haveria inspirado os enciclopedistas dirigidos por Diderot. Mas tarde, a Inquisição em Roma queimou uma cópia dele em praça pública, logo após a Bula de Clemente XII "In Eminenti". Efetivamente na parte final dele, Ramsay emite os conceitos mencionados por Ivan Barbosa. Só que em parte alguma ele fala que as mudanças feitas pelos maçons em 1717 eliminaram a mulher da Maçonaria. As mudanças mencionadas por Ramsay são as mesmas que foram reclamadas pelos Ilrque se afastaram da G L (de 1717) e que originou um cisma em 1751 na G L de Inglaterra entre os "antigos" (anti G L de 1717) e os "modernos" que fundaram a G L de 1717. Em 1753 os "antigos" fundam a G L dos Maçons Livres e Aceitos consoante com as velhas Constituições. Os "antigos" censuravam os "modernos" por haver omitido orações, descristianizado os Rituais, ignorado os Dias Santos, estabelecido a obrigatoriedade da crença em Deus, e mudado os Landmarks. Favor preste atenção a este detalhe: se os "antigos" reclamavam supostamente da eliminação da mulher na Maçonaria por Anderson, porque eles não acolheram mulheres na sua G L durante os 60 anos que durou esta Potência? Antigos e modernos se reconciliaram em 27 de Dezembro de 1813 fundando a G L Unida de Inglaterra.

Também no artigo de Ivan Barbosa, menciona o Manuscrito Régio ou Manuscrito de Halliwell, como suposta prova que a mulher formaria parte das Lojas de Pedreiros citando os versos 203 e 204 que dizem "Que nenhum Mestre suplante outro, senão que procedam todos como irmão e irmã", e nos versos 351 e 352 que dizem "Amavelmente, servindo-nos a todos, como se fossemos irmão e irmã".

Efetivamente, na página 16 (são um total de 64 páginas) existem os versos que mencionam "que sejam unidos como irmão e irmã" e na página 28 fala-se "como se fossem irmão e irmã". Só que, acho que com a exceção de Brasil, em todos os outros países os maçons se referem às esposas dos irmãos como "nossas irmãs", não podendo então deduzir que o termo irmã refere-se a mulher maçom e sim a esposa de nosso irmão. Eu gostaria de mencionar que na página XII quando fala de selecionar novos membros para a fraternidade, menciona que "seria uma grande vergonha tomar um homem aleijado..., um homem imperfeito .., o grêmio quer um homem forte. .., um homem aleijado não tem força..., etc." E porque não recomenda tomar mulheres fortes, etc ?

As Lojas Direitos Humanos e outras Lojas mistas ou femininas não tem conseguido avançar dentro do campo que mais interessa a elas: a aceitação ou reconhecimento por parte das potências maçônicas regulares: seu principal centro de apoio, o Grande Oriente da França manteve relações e Garantes de Amizade durante um tempo com as Lojas Direitos Humanos, mas posteriormente este reconhecimento foi interrompido; unicamente aceita a visita na suas Lojas dos membros homens dos Direitos Humanos e não proíbe a seus próprios membros a incorporação nas Lojas da co-maçonaria. Por sua parte, a Grande Loja da França nunca reconheceu as Lojas Direitos Humanos; não proíbe a seus membros visitar Lojas de Direitos Humanos mas não aceita em suas Lojas a visita dos membros homens dos Direitos Humanos. Nenhuma potência maçônica da Associação Maçônica Internacional reconhece a Direitos Humanos como Obediência regular com exceção do tratamento dado pelo Grande Oriente da França. O Grande Comendador (autoridade máxima do grau 33 da maçonaria filosófica) da Bélgica não considera a Loja Direitos Humanos como um rito maçônico e, por tanto, ele pode ser visitado por qualquer Irmão, desde que sem paramentos, da mesma forma como pode visitar outras instituições não maçônicas como Lyons, Rotary, etc.

Hoje em dia a situação da Maçonaria com respeito da mulher não tem mudado. E com certeza nunca mudará. Ainda que a Maçonaria não se pronuncia sobre o assunto (conforme sua atitude tradicional de não se envolver em polêmicas desgastantes e que a nada conduzem), os que realmente conhecem a Maçonaria sabem que ela considera a mulher com o maior respeito dentro da sociedade humana e tanto é assim que para ela são reservadas homenagens especiais na cerimônia de iniciação de seu marido; elas também participam em sociedades para-maçônicas tais como Centros Femininos, Clube da Acácia, Filhas de Jó, Eastern Star, Ordem do Arco-iris, etc. nas quais elas desenvolvem seus próprios ideais e princípios. Esta consideração para a mulher começa já na seleção do candidato que deseja um lugar entre nos : a esposa do candidato é entrevistada separadamente e se ela não concordar com o ingresso de seu marido na Maçonaria o processo do candidato é encerrado imediatamente.

Resumindo, a Maçonaria é uma instituição essencialmente masculina; ela não é secreta e sim discreta e exclui a mulher por razões unicamente tradicionalistas. Se alterar esta proibição, a Maçonaria morreria e nasceria uma nova instituição que nada terá a ver com a Constituição de Anderson, com os Regulamentos Gerais e com os Land-marks.

 

Capítulo 29

A Maçonaria é uma religião ?

 

A crença em Deus é condição absoluta e insuperável para o ingresso na Maçonaria e converte-se numa verdade comum a todos os maçons, que consideram a Deus como o criador do Universo. Em respeito a todas as religiões a Maçonaria estabeleceu, como fórmula, denominar a Deus como o Grande Arquiteto do Universo. Mesmo que acreditar em Deus pressupõe a crença numa vida futura, a Maçonaria exige subsidiariamente esta crença numa vida futura.

Também a Maçonaria considera indispensável á existência no Altar de um Livro da Lei, o livro que, conforme a crença, se supõe conter a verdade revelada por Deus. Conforme o credo da nação onde a Loja maçônica estiver localizada, este Livro poderá ser a Bíblia, Antigo Testamento, Torah, Corão, etc.

Estas exigências da Maçonaria tem tanta força que quando em 1877 o Grande Oriente de França eliminou de seus estatutos a obrigação da crença em Deus, na imortalidade da alma e o uso da Bíblia no Altar, a Grande Loja Unida da Inglaterra, as Grandes Lojas dos Estados Unidos e outras potências de outros países romperam seu relacionamento fraternal com o Grande Oriente da França e ele não mais foi reconhecido como potência maçônica regular, situação que, pese a inúmeros esforços de aproximação feitos pelos franceses, persiste até hoje.

Após este preâmbulo, podemos fazer a pergunta que encabeça este artigo: É a Maçonaria uma religião? Ela exige a crença em Deus e na imortalidade da alma, o Livro Sagrado está presente em suas reuniões, desenvolve um culto e nesse culto, conforme o seu ritual, são elevadas preces a Deus.

Primeiramente vejamos o que é religião. Conforme o Dicionário Brasileiro da língua Portuguesa da Enciclopédia Mirador religião é o serviço ou culto a Deus, ou a uma divindade qualquer, expresso por médio de ritos, preces e observância do que se considera culto divino.

Se bem é verdade que a Maçonaria exige de seus membros a crença em Deus, ela não propõe nenhum sistema de fé que seja próprio da Maçonaria. O fato de desenvolver suas reuniões conforme um ritual não é condição suficiente para ser rotulada de religião já que um ritual, em geral, não é privativo de uma religião e sim é um ordem ou conjunto de quaisquer cerimônias ou pode ser um cerimonial próprio de qualquer culto; culto é a forma pela qual se presta homenagem à divindade, mas na linguajem diária nos também podemos render culto a outras símbolos diferentes da divindade, a Pátria, por exemplo; de todas maneiras, a Maçonaria aclara que esse culto é a própria Maçonaria. Os rituais maçônicos permitem preces, mas elas referem-se unicamente ao que vai fazer imediatamente e não a uma prática religiosa. A própria Igreja Católica reconhece, pela voz do Pe. Jesus Hortal, S. J., que a Maçonaria não é uma religião, porque não tem, como finalidade primordial prestar culto a Deus, sendo este o mais forte argumento que a Maçonaria não é uma religião. A Maçonaria mesmo que acessível aos homens de todas as crenças religiosas proíbe, expressamente, toda discussão religiosa-sectária em seus Templos.

Sendo a Maçonaria uma sociedade de homens livres e de boas costumes que, com amor a Deus, à Pátria, à família e ao próximo, com tolerância e sabedoria, com a constante e livre investigação da Verdade, com a evolução do conhecimento humano pela filosofia, ciências e artes, sob a tríade da Liberdade, Igualdade e Fraternidade e dentro dos princípios da Moral, da Razão e da Justiça, o mundo alcance a felicidade e a paz universal, acaba tendo implicações religiosas, como também pode ter um sistema político ou uma escola filosófica e, obviamente, doutrinas políticas e filosofias não são religiões.

Esperamos ter respondido de forma compreensível a pergunta acima concluindo que a Maçonaria não é uma religião.

 

Capítulo 30

A Maçonaria e a Igreja Católica

 

Na pre-sindicância que é feita com um candidato inclui-se a afirmação que “alguns setores religiosos condenam à Maçonaria” e se ele, o candidato, sabe disso. Invariavelmente o sindicante vê-se confrontado com uma série de perguntas por parte dele e de sua esposa querendo conhecer os motivos que poderia ter a Igreja para condenar à Maçonaria e em que forma o maçom poderia ser prejudicado com esta condenação. Normalmente, os candidatos têm a idéia que é a Maçonaria que combate a Igreja e não o contrário.

Sobre as razões que a Igreja Católica poderia ter para combater à Maçonaria, lembramos que no passado a Igreja Católica temia o desenvolvimento do conhecimento, temerosa que espíritos esclarecidos pudessem questionar seus dogmas. Em 1717 ressurge, rejuvenescida na sua organização, a Maçonaria, como Maçonaria Moderna ou Simbólica, promovendo dentre de seus membros a busca da verdade, o conhecimento do Homem e do meio em que ele vive, para assim alcançar o aperfeiçoamento da humanidade. Exalta a virtude da tolerância e rejeita todas as afirmações dogmáticas e todo fanatismo.

E este renascimento da maçonaria na sua conceição moderna acontece na Inglaterra, berço do cisma provocado por Henrique VIII que reagiu contra o Vaticano. Os homens que participaram da Maçonaria eram na sua maioria, protestantes, livre pensadores, capazes de contestar os dogmas e o poder que a Igreja exercia sobre o povo. Esta primeira Grande Loja publica em 1723 a Primeira Constituição do Reverendo James Anderson que “faculta aos maçons de seguir a crença religiosa que lhe convenha, deixando para cada um a liberdade de suas convicções próprias desde que sejam homens probos e honestos, não importa que crença praticarem”.

A reação da Igreja Católica contra esta Declaração de liberdade e tolerância religiosa demorou 15 anos. Esta demora pode ter sido pela lentidão das comunicações na época ou porque a Igreja não acreditou que a Maçonaria iria conquistar Europa e o Novo Mundo. Quando começam a nascer Lojas maçônicas na Europa e USA as quais a intelectualidade e a nobreza aderem, a Igreja reagiu lançando no dia 28 de abril de 1738 a primeira Bula contra os francmaçons, pelo Papa Clemente XII, sendo esta a conhecida como Bula mãe. De nome In Eminenti Apostolatus Specula, esta Bula acusa os maçons como suspeitos de heresia em razão do segredo e de seu juramento “pois se os maçons não fizeram o mal, não teriam esse ódio à luz”. A este primeiro motivo a Bula fala que “outros motivos justos e razoáveis, de nos conhecidos” existem só que estes motivos nunca foram revelados. Historiadores pensam que o objetivo principal da Bula mãe era de caráter político. As 4 Lojas fundadores em 1717 da Grande Loja, em Londres, pertenciam a facção política dos Hannover (protestantes); a causa do catolicismo estava perdida na Inglaterra e o destronado rei Jacobo II dos Stuart, era recebido com toda a sua corte em Roma como exilado, sendo seu filho Jacobo III reconhecido pelo Vaticano como legítimo rei da Inglaterra. Considerando que quando a Bula foi emitida, Clemente VII estava em adiantado estado de cegueira, havia perdido a memória e seu estado de senilidade não lhe permitia abandonar o leito, a Bula foi criação de um poder oculto que estaria trás da hierarquia da Igreja.

A Bula, que sentenciava não só os maçons à excomunhão, como também a todos aqueles que promovessem ou defendessem a causa maçônica, teve nos países católicos diversas reações. Foi notoriamente aceita na Florença, Veneza, Sardenha, Polônia, Espanha e Portugal. Nestes dois últimos países grassou a Inquisição e a História conserva o processo movido contra o maçom João Coustos, entre 1742 e 1744 em Lisboa, torturado e condenado ás galés. Na Espanha, Felipe V promulgou em 1740 uma ordem contra os maçons, baseada na Bula, desencadeando uma sangrenta perseguição. Mas, na Franca a Bula não surtiu qualquer efeito; não tendo sido registrada pelo Parlamento de Paris nunca foi colocada em execução, mercê ao adágio “Lex non promulgata non obligat”; o clero francês insistia em manter suas liberdades. Inclusive, durante todo o século XVIII os padres freqüentaram as Lojas em grande número. Estas, aliás, eram profundamente católicas. A primeira edição francesa (1742) das Obrigações da Confraternidade dos Francmaçons contém os Estatutos em uso nas Lojas da França e nelas se lê: “Ninguém será recebido na Ordem se não tiver prometido e jurado inviolável apego à religião, ao Rei e as costumes”.

Muitas outras Bulas e Encíclicas tem sido emitidas todas similares em espírito. Aclaramos que uma Bula é um decreto do Papa e portanto deve ser obedecido pelo povo católico e que uma Encíclica é uma circular emitida também pelo Papa para esclarecer e orientar os fieis sobre pontos de fé, doutrina e dogmas da Igreja.

Em 18 de Maio de 1751 o Papa Bento XIV promulga a bula Providas Romanorum Pontificum, que também enumera 6 razões: 1) nas sociedades e assembléias secretas estão filiados homens de todos os credos; daí ser evidente a resultante de um grande perigo para a pureza da religião católica; 2) a obrigação estrita do segredo indevassável, pelo qual se oculta tudo que se passa nas assembléias secretas; 3) o juramento pelo qual se comprometem a guardar inviolável segredo, como se fosse permitido a qualquer um apoiar-se numa promessa ou juramento com o fito de furtar-se a prestar declarações ao legítimo poder; 4) tais sociedades são reconhecidamente contrárias às sanções civis e canônicas; 5) em muitos países as ditas sociedades e agremiações foram proscritas e eliminadas por leis dos príncipes seculares; e 6) tais sociedades a agremiações são reprovadas por homens prudentes e honestos.

Um dos Papas que mas se destacou na campanha católica contra a Maçonaria foi Pio IX. Durante seu mandato como Papa (1848–1878) emitiu 116 documentos pontifícios com ataques e condenações às sociedades secretas. Curiosamente em 1823 foi iniciado em uma loja maçônica em Santiago do Chile, Giovanni Maria Mastai Ferreti, futuro Papa Pio IX, então Secretário do Nuncio Apostólico Muzzi. Poder-se-á alegar que o intuito dele ingressar na Maçonaria teria sido o de conhecer mais de perto o inimigo da fé. Em 27 de março de 1874 a Grande Loja Escocesa de Palermo, Itália, eliminou da Ordem o Papa Pio IX acusado de perseguir seus irmãos. Além de perseguir à Maçonaria, Pio IX foi um ardente anti-semita.

Estas ações da Igreja tinham uma força terrível, pois a Igreja era a instituição mais poderosa da sociedade ocidental, sobre a qual exerceu influência marcante, tendo o Papa se tornadoo dirigente supremo do mundo ocidental. A Igreja, na época, formulava princípios relativos ás atividades econômicas, controlava o ensino, ditava normas relativas a organização familiar, na política cristianiza a autoridade de Reis e Imperadores mediante a unção e sagração. Afirmava que o poder leigo governa os corpos e o poder eclesiástico governa as almas e como ao alma é superior ao corpo, a autoridade eclesiástica sobrepõe-se a autoridade leiga. Ao Papa, como chefe da Igreja e representante direto de Deus na Terra, corresponde o governo supremo da sociedade cristã, à qual pertencem Reis e Imperadores; além do mais, Reis e Imperadores, como os demais homens, podem cair em pecado estando sujeitos ao julgamento do poder eclesiástico. Em uma sociedade assim dirigida, pode-se avaliar o que representava a pena de excomunhão que colocava o condenado fora da comunidade e o privava de todos seus direitos.

Também a Igreja tem emitido em contra da maçonaria diversos decretos que se tem avolumado no Codex Juris Canonico formando o conjunto de leis que consolidam o direito dentro da Igreja. De todos eles os mais fortes e conhecidos são os números 2335 e 2336 que castigam com a excomunhão as seitas maçônicas que maquinam contra a Igreja ou contra as autoridades cíveis legítimas e promove a denuncia dos clérigos que participam em Lojas maçônicas.

Unicamente para efeitos documentais reproduzimos a continuação os decretos principais emitidos em contra de associações de tipo maçonaria e similares:

684 – Fideles laude digne sunt, si sua dent nomina associationibus ab Ecclesia erectis vel saltem commen datis; caveant autem ab associationibus secretis, damnatis, seditiosis, suspectis au quae studeant sese a legitima Eccesiae vigilantia subducere.

São dignos de loa os fiéis que se inscreverem nas associações erigidas ou ao menos recomendadas pela Igreja; mas fugirão das associações secretas, condenadas, sediciosas, suspeitas, ou que procuram evadir-se da legítima vigilância da Igreja.

693 – Acatholici et damnatas sectae adscripti aut censura notorie irretiti et in genere publici peccatores valide recipi nequeunt.

Os católicos e os adscritos à seitas condenadas, ou os notoriamente incursos em censura e, em geral os pecadores públicos, não podem ser recebidos com validade.

1240 - #1 Ecclesiastica sepultura privantur, nisi ante mortem aliqua dederint poennitentiae signa :

1) Notorii apostatae a christiana fide, aut sectae haereticae vel schismaticae aut sectae massonicae aliieve eiusdem generis societatibus notorie addicti;

#1 Estão privados da sepultura eclesiástica, a não ser que antes da morte houvessem dado algum sinal de arrependimento:

1) Os notórios apóstatas da fé cristã ou os notoriamente filiados a uma seita herética ou cismática ou à seita maçônica ou outras sociedades do mesmo tipo.

1339. Ipso iure prohibentur :

# 8) Libri Qui duellum vel siucidium, vel divortium licita statuunt, Qui de sectis massonicis vel aliise ciusdem generis societatibus agentes, eas utiles et non perniciosas Ecclesiae et civili societati esse contendut;

Estão proibidos por este decreto:

# 8) Os livros que declaram lícitos o duelo e o suicídio, ou o divórcio, e os que tratando das seitas maçônicas ou de outras sociedades análogas, pretendem provar que, longe de serem perniciosas, resultam úteis para a Igreja e a sociedade civil.

2335 – Nomem dantes sectae massonicae aliisve eiusdem generis associationibus quae contra Ecclesiam vel legitimas potestates machinantur, contrahunt ipso facto excommunicationem Sedi Apopstolicae simpliciter reservatam.

Os que dão seu nome à seita maçônica ou outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra as potestades cíveis legítimas, incorrem imediatamente do ato, em excomunhão simplesmente reservada à Sede Apostólica.

2336 – # 2 – Insuper clerici et religiosi nomen dantes sectae massonicae aliisque similibus associationibus denuntiari debent Sacrae Congregationi S. Officii.

# 2 – Os clérigos e os religiosos que dão seu nome à seita maçônica ou a outras associações semelhantes, devem também ser denunciados à Sagrada Congregação do Santo Ofício.

Que devemos entender por “maquinar contra a Igreja”? A resposta é dada pela própria Igreja que através dos séculos tem acusado à maçonaria de ações que correspondem a este “delito”, detalhando-se alguns exemplos a continuação:

1751 – Os maçons enganam os fieis com falsa filosofia e vãos sofismas

1844 – Maçons e cristãos são essencialmente inconciliáveis

- A Maçonaria declara que a razão humana é o meio de alcançar a verdade

1846 – A Maçonaria diz que qualquer religião é digna

- A Maçonaria nega obediência e revela-se contra os Príncipes

1849 – A Maçonaria propicia a abolição do poder civil da Igreja

1850 – A Maçonaria propicia que a escola pública deve depender do poder civil

1851 – A Maçonaria diz que a Verdade não é exclusividade da Igreja Romana

- A Maçonaria diz que reis e príncipes estão isentos da jurisdição da Igreja

- A Maçonaria diz que a Igreja não tem potestade para usar a força

- A Maçonaria diz que o Direito Civil prevalece frente as leis da Igreja

- A Maçonaria diz que o vínculo matrimonial é indissolúvel e pertence ao Forum civil

1852 – A Maçonaria pede a separação da Igreja e do Estado

1854 – A Maçonaria declara que o poder civil de um país pode definir os direitos

da Igreja

1855 – A Maçonaria nega à Igreja Católica de ser a única religião do Estado

1861 – A Maçonaria pede que a Igreja se reconcilie com o progresso, o liberalismo

e a moderna civilização

1862 – A Maçonaria declara que todo homem é livre de abraçar a religião que a

luz de sua razão lhe indicar

- A Maçonaria declara que o Estado tem direitos ilimitados

1864 – A Maçonaria está a favor da democracia e da instrução popular

- A Maçonaria ignora a proibição de pertencer à seita maçônica e declara

que essa proibição está contra a lei e a honestidade

Pese a todos estes ataques da Igreja em contra da Maçonaria, esta tem continuado seu desenvolvimento silencioso abraçando praticamente todos os países do mundo onde existam regimes normalmente livres, e a Igreja Católica, tem diminuído sua influência no mundo ao ponto que hoje representa bem menos do que antigamente no desenvolvimento das idéias; seus sacerdotes começaram a se engajar com doutrinas políticas que a Igreja sempre combateu e o interesse por ingressar nos seminários é cada vez menor. Os ultra-conservadores que no comando da Igreja criaram a Inquisição e o Opus Dei, cedem seu lugar para dirigentes humanistas que tentam dialogar com aqueles que por enquanto são chamados de “irmãos na separação”.

Em 1928 acontece uma reunião em Aquisgran entre o padre jesuíta Hermann Grüber e os maçons Lang, Lennhoff e Reichel e todos concordam na necessidade de suprimir de ambos lados o argumentos não objetivos, caluniosos e ofensivos.

Durante a 2a Guerra mundial, o Nuncio Roncalli, futuro Papa João XXIII, trabalhou pela causa aliada junto dos maçons Riandey e Marsaudon, da Resistência francesa.

No 2o Concílio do Vaticano já houve declarações bem diferentes das posições intolerantes do passado e, em fevereiro de 1969, Alec Mellor, advogado católico francês, pede e recebe autorização do Vaticano, para ser iniciado na Loja L’Espoir No 35 da Grande Loja Nacional Francesa, o que acontece em 29 de março do mesmo ano.

Após sua iniciação, Allec Mellor recolhe em livros suas impressões sobre a Maçonaria e que tenta demonstrar que os anátemas da Igreja em contra da maçonaria tem deixado de ter validade e efetividade. Estes livros de Mellor ganham a adesão de maçons que professam a fé católica e, paralelo a eles aparecem outros autores dando apoio, dando a impressão que existe um movimento interno tendente a provocar uma cisma dividindo a Maçonaria com fé revelada e Maçonaria baseada na razão e a ciência; para a Igreja a primeira seria Maçonaria regular e a outra espúria ou irregular. A Confederação Maçônica Inter-americana reunida na sua VIII Conferência de São Domingos, março de 1970, alertou sobre erros e confusões que estes “reformistas” pretenderiam provocar, lembrando as diferencias e a contradição existente entre a Igreja Católica e a Maçonaria, sendo o maior obstáculo para estes reformadores o fato da Maçonaria ser uma instituição para homens não alienados pela obsessão do sobrenatural.

O Cânone 2335 começa a ser questionado. Respondendo a uma consulta do cardeal John Joseph Krol, de Novo Iorque, em 18 de julho de 1974, o Cardeal Prefeito do “Sacra-Congregatio Fidelis” do Vaticano, responde que o Cânone aplica-se somente aos católicos que se filiem a associações que conspirem contra a Igreja mas, os clérigos e religiosos continuam sempre proibidos de pertencer a qualquer instituição maçônica. Trata-se de um pequeno avanço no campo da tolerância religiosa.

Em 1968, sempre sobre o Cânone 2335, o Grão Mestre da Grande Loja Unida da Alemanha, Theodor Vogel, contata o Cardeal de Viena, Franz Koening, e deste diálogo surge uma Comissão formada por maçons e autoridades eclesiásticas que tem várias reuniões e que ao término delas foi divulgada a Declaração de Lichtenau, em 5 de julho de 1970 que pregava pelo fim da controvérsia, manifestando que as Bulas referentes à Maçonaria tão somente tem interesse histórico, sem sentido nos tempos atuais e que a Lei Canônica torna-se impossível para uma Igreja que ensina a amar seus semelhantes.

Em novembro de 1973 foram iniciadas conversações entre representantes da Conferência Nacional de Bispos do Brasil (CNBB) e da Confederação Maçônica do Brasil para estudar as doutrinas católica e maçônica. A iniciativa surgiu em 1971 através de Dom José Ivo Lorscheiter, então Secretário Geral da CNBB. Desde o seu inicio, a primeira reunião de fato aconteceu em 1993, os encontros anuais tem sido realizados em Porto Alegre (RS) e as discussões se fazem em cima de temas sobre os quais existam possíveis “divergências doutrinarias” entre as duas instituições.

Dois pontos principais tem sido levantados pela Igreja como posição de reserva em relação à Maçonaria:

1. O ritos simbólicos, centrando tudo no ser humano, reconhecem ainda a “Revelação Cristã”? Ou que espaço deixam à “Revelação Cristã”, que os católicos reconhecem e aceitam?

2. A procura racional da verdade, a moral autônoma, deixam espaço para a graça e a salvação em Cristo?

A Maçonaria tem explicado que os Ritos simbólicos não centram tudo no ser humano como afirmado, uma vez que partem da premissa de prevalência do espírito sobre a matéria, cuja fonte é o Grande Arquiteto do Universo (Deus) existindo assim, espaço para o fortalecimento da fé (de todas as religiões) adotada pelos seus adeptos, constituindo-se a “Revelação Cristã” uma verdade para os maçons católicos, que não pode ser questionada pela Maçonaria ou pelos maçons de outros credos, segundo a doutrina que se extrai desses ritos.

Enquanto ao segundo ponto, a procura racional da verdade afirmada nos rituais desses Ritos não tem origem na moral autônoma. Ao contrário, subordina-se à crença indispensável do maçom no Grande Arquiteto do Universo, em Deus, no Deus da sua religião, força espiritual de que tudo deriva. Assim, se para o maçom católico a Graça da Salvação está em Cristo, tal verdade não contraria qualquer princípio da maçonaria que impõe a seus adeptos respeito às religiões, estimulando-os à mais absoluta fidelidade à fé que abraçam.

Embora não tenha se manifestado a favor ou em contra, o Vaticano está informado sobre os encontros, que continuam sendo realizados em Porto Alegre, e manifestou que o assunto é da alçada das autoridades religiosas brasileiras; a documentação vá sendo arquivada em uma pasta denominada “Assuntos da Maçonaria”.

Em 1984 aparece um novo Código de Leis Canônicas, a “Sacrae Disciplinaes Legis”, caindo a quantidade total de artigos de 2412 para 1728. Este novo Código expurga a excomunhão aos maçons mas, a Sacra-Congretatio Fidelis, através se seu Prefeito Cardeal Ratzinger aclara que “os fieis que pertencem as associações maçônicas estão em estado de pecado grave e não podem aproximar-se da sagrada comunhão”.

Pode ser que no Brasil é o país onde mais tem acontecido maior quantidade de encontros de bom relacionamento entre a Igreja e a Maçonaria, pois são inúmeras as vezes que palestrantes convidados por Lojas maçônicas no país todo, tem sido prelados da Igreja, demonstrando que a maçonaria brasileira é essencialmente cristã.

Em outros países, Chile por exemplo, o relacionamento não existe e podemos falar que os maçons chilenos se consideram “livre-pensadores”.

Resumindo, a posição oficial da Igreja Católica pouco tem mudado com respeito à Maçonaria, mas tem crescido, dentro do corpo dela, a quantidade de membros da Igreja Católica que se relacionam com a Maçonaria de forma amigável e trabalham junto com ela na solução dos problemas de suas comunidades.

OUTRAS IGREJAS.

Após análise da história do relacionamento entre a Maçonaria e a Igreja Católica, chega-se a conclusão que, de todas as Igrejas que tem dominado o pensamento religioso no mundo, quase a única que tem desenvolvido uma invariável perseguição em contra da Maçonaria tem sido a Igreja Católica. As outras Igrejas, incluindo aquelas em que está dividido o cristianismo, tem mantido um relacionamento marcado pelo respeito e, até certo ponto, pela amizade e isto é tão verdadeiro que quando o Papa João XXIII pretendeu atrair os outros irmãos chamados por ele de “irmãos separados” descobriu que muitos dos pastores e fieis destas Igrejas cristãs eram irmãos. Unir a Igreja Católica com essas Igrejas com maçons dentro delas, contrariava toda uma história de perseguições. E se através desses pastores “irmãos” a Maçonaria infiltrar-se dentro da Igreja Católica? Outro dado interessante é que nos países onde a Maçonaria tem alcançado um maior desenvolvimento, Inglaterra, Canadá e USA, a Igreja Católica é minoritária, sem influencia sobre o Estado ou sobre a consciência do povo.

Uma das poucas exceções é a seita dos Santos dos Últimos Dias, ou os Mórmons, que mantém uma posição anti-maçônica extremada, proibindo aos seus adeptos de pertencerem à Ordem. Em 1839 os Mórmons compraram terras em Illinois, USA, recebendo um bom número de pessoas da religião Mórmon, e entre eles, havia alguns maçons, que obtiveram em 1851 uma Carta Provisória da Grande Loja de Illinois para fundarem uma Loja em 15 de outubro de 1842. Logo depois começa o processo da poligamia dentre deles gerando uma dura oposição dos maçons; as Lojas maçônicas começam a proliferar dentro dos Mórmons, mas cometendo uma série de irregularidades tais como iniciar maçons aos milhares, criando um atrito com a Grande Loja, que eles não obedeciam. Em 1844 acontece um motim popular no estado de Illinois, onde são assassinados dois irmãos carnais, ambos maçons, um deles fundador da primeira Loja de 1842 e o outro que iniciou o processo de poligamia. Os Mórmons emigram para Utah, fundam Salt Lake City e logo em seguida renunciam a sua condição de maçons e iniciam uma campanha intensa contra a Maçonaria.

Também grupos protestantes minoritários de USA, especialmente das denominadas igrejas neo-pentecostais desenvolvem hoje em dia uma campanha em contra da maçonaria acusando-a de :

· manter duas organizações, uma invisível e outra invisível para fins de dominação inconfessáveis,

· criação de uma religião mundial dominada pela maçonaria,

· manter ligações com a feitiçaria,

· adorar a Lúcifer como a encarnação da Luz,

· considerar a serpente (Kundalini) como o Salvador do Mundo,

· adoração do ato sexual (provavelmente refere-se ao Ponto dentro do Círculo)

· ensinar que o homem pode atingir a divindade

· derivar dos Cavalheiros Templários, que eram adoradores de Satanás, etc

No Islam existe uma reação quase que geral em contra da Maçonaria. Quando foi emitida a primeira excomunhão dos maçons pelo Papa Clemente XII, os Ulemas (teologistas islamitas) com o argumento que “se o Papa declara que os maçons são ateus, algo de verdade deve existir, e acabaram influenciando o Sultão Mahmud I para proibir a Maçonaria nos países árabes.

A exceção são Líbano e Marrocos, incluindo-se também as lojas militares que existem nas bases norte-americanas sediadas nos países árabes. Em 1973 a Alta Corte de Casablanca determinou que a Maçonaria é compatível com o Islã. Em Turquia existe uma Grande Loja reconhecida e consagrada pela Grande Loja da Escócia, como igualmente no Egito, que por sua vez tem tido períodos regulares e irregulares a través da sua história.

 

 

BIBLIOGRAFIA :

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A movimentação das colunetas e o acendido das velas Oswaldo Ortega

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As velas e os sete candelabros na Ordem DeMolay

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Circunvalação e Circumambulismo Humberto Acosta Revista Shittah Jul/56

Comentários ao Ritual de Aprendiz – Volume II Nicola Aslan

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Enciclopédia Mirador

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Lições Bíblicas publicadas pelas Assembléias de Deus (1984)

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Revista A Verdade, Dezembro/85 Antônio Di Profio

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Revistas Masónicas de Chile, desde 1927 até 1985

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Tradução da Constituição de Anderson João Nery Guimaraes

 


 

Índices do livro TEMAS PARA O APRENDIZ MACOM - Ven.Irmão OMAR CARTES