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MONOGRAFIAS MAÇÔNICAS

pelo Ven.Irmão WILLIAM ALMEIDA DE CARVALHO 33


AS ANOTAÇÕES DE VASCONCELLOS DE DRUMOND

Anotações de Drummond, à sua Biografia. Publicada em 1836icon_pdf


  Vasconcellos_de_Drummond

Apresentação

            Assim como a Carta de Pero Vaz de Caminha é a certidão de nascimento do Descobrimento do Brasil, As Anotações de Drummond podem ser consideradas a carta de alforria do Brasil emancipado. O nascimento do Brasil independente e o papel da maçonaria estão devidamente imbricados nas suas Anotações, um documento fundamental para se entender a ambos.

            Vasconcellos de Drummond (1794-1865) foi um dos políticos que se destacam no processo que culmina com a Proclamação da Independência do Brasil, atuando nas províncias de Pernambuco e da Bahia. É um dos fundadores, em 1823, do jornal O Tamoyo, alinhado aos Andradas. Foge do país na época do fechamento da Constituinte. Instala-se em Paris, onde mantém contatos próximos com outro exilado, José Joaquim da Rocha, e com José Bonifácio. Conquista uma posição rara, entre os sul-americanos do tempo, na vida cultural francesa. Publica periodicamente no jornal La France Chrétienne, além de figurar entre os membros fixos do Journal de Voyages. É nesse último que publica, em três partes, o diário da “Viagem Mineralógica” de Martim Francisco Ribeiro de Andrada e José Bonifácio por São Paulo, além de excertos de outros textos deste último. Em 1829, entra para a carreira diplomática.

            As informações sobre Vasconcellos de Drummond são relativamente parcas. Sacramento Blake, contudo, no seu Dicionário Bibliográfico Brasileiro, informa que Antônio de Menezes Vasconcellos de Drummond nasceu no Rio de Janeiro a 21 de maio de 1794 e faleceu em Paris a 15 de janeiro de 1865. Filho do capitão Antônio Luiz de Ferreira de Menezes Vasconcellos de Drummond e de dona Josepha Januária de Sá e Almeida, nasceu no Rio de Janeiro a 21 de maio de 1794 e faleceu em Paris a 15 de janeiro de 1865.

            Tendo feito alguns estudos de humanidades, por influência do Ministro de D. João VI Thomas Antônio de Villanova Portugal, amigo de seu pai, obteve em 1809 um ofício um cargo na chancelaria do reino, e que segundo Sacramento “no qual serviu tão bem, que no ano seguinte teve o hábito de Cristo e uma tença de doze mil réis”. Aos 15 anos terminara os seus estudos literários e conhecia a fundo a doutrina de Adam Smith, dominava Kant e outros filósofos e falava quatro línguas vivas

            Em 1821, nos primórdios da Independência, se encontrava em Portugal quando retorna ao Brasil e vai a Pernambuco trabalhar pelo reconhecimento de D. Pedro I. Tendo seu destino indissoluvelmente ligado aos Andradas, depois da dissolução da Constituinte vai com eles processado e degredado para a França.

            Retorna ao Brasil em 1829 quando entra para a carreira diplomática, sendo nomeado encarregado de negócios interino e cônsul geral na Prússia. Em seguida, passa a encarregado de negócios na Sardenha, e depois em Roma e na Toscana. De lá foi elevado a ministro residente e mais tarde a enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Portugal, aposentando-se a 21 de junho de 1862. Informa ainda Sacramento que “já em avançada idade, achando-se cego, foi obrigado a ir à França tratar-se e lá morreu, sendo do conselho de sua magestade o Imperador, comendador da ordem da Rosa, de Cristo e da ordem toscana do Mérito e grã-cruz da ordem de S. Maurício, e da Nossa Senhora da Conceição da Villa Viçosa, de Portugal’’.

            Um dos fundadores e redator do jornal O Tamoio em 1823.

            Vasconcellos de Drummond apesar de afirmar nunca ter pertencido à Maçonaria, foi acusado várias vezes de cerrar fileiras entre seus membros.

            A primeira vez quando ainda jovem e protegido de Villanova Portugal, Vasconcellos de Drummond foi injustamente acusado de pertencer a uma das sociedades secretas que planejava uma forma de tornar o Brasil independente de Portugal. Contador da Chancelaria-mor e gozando da confiança do Ministro, mas com a pecha de pedreiro-livre, o jovem funcionário foi aconselhado a mudar de ares em seis meses de licença. E decidiu visitar a Capitania da Ilha de Santa Catarina, então governada por João Vieira Tovar e Albuquerque. Tudo isto está contado em detalhes nestas suas “Anotações’’ feitas por Antônio Meneses de Vasconcellos Drummond à sua biografia. E aqui convém um esclarecimento: a edição de 1836 do Biographie Universelle et Portative des Contemporains (considerado um dos primeiros Who´s Who mundial, pois o primeiro teria sido o Grosses vollständiges Universal-Lexicon aller Wissenschafften und Künste (1732-1750) com 64 volumes de Johann Heinrich  Zedler) publicada em Paris apresenta um verbete sobre a vida de Drummond. Mais tarde a pedido do também historiador e maçom Melo Morais, Drummond “anotou” a biografia que agora vemos na íntegra nesta edição do Senado Federal. Estas notas, ao lado do verbete da edição francesa, foram publicados nos Annaes da Biblioteca Nacional número XIII (1885-1886) Parte 3, pp. 1-149 com o título de Anotações de A. M. V. de Drummond à sua Biografia .

            A importância de Vasconcellos de Drummond como historiador e incansável farejador de documentos relativos à independência do Brasil é ressaltada por José Honório Rodrigues no seu A Pesquisa Histórica no Brasil. Coloca-o junto com Francisco Adolfo de Varnhagen, a quem Drummond introduziu no quadro social do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e no corpo diplomático brasileiro, como os dois maiores pesquisadores individuais de nossa história no Império. José Honório chega a afirmar que Drummond “foi um dos poucos diplomatas que atendeu aos apelos do Instituto Histórico de colher documentos brasileiros na Europa. Na sua correspondência com o Instituto, lida nas sessões e publicada na Revista, vê-se o interesse que dava à história e à pesquisa. Ofereceu ao Instituto inúmeras cópias, colecionou ainda maior número e doou a Melo Morais grande parte dos originais e cópias que adquiriu e extratou na Europa. Esta coleção consta não só de segundas vias de despachos e minutas de ofícios e notas, cujos originais devem fazer parte do Arquivo do Ministério das Relações Exteriores, como também de cartas particulares e documentos sobre a Independência e a revolução de 1824” (p. 41).

            Grande parte dos papéis coletados por Drummond, não só na Europa como até mesmo nos arquivos de Moçambique em relação aos papéis de Gonzaga, acabaram nos arquivos de Melo Morais que lhe escreveu a biografia e “editou mal alguns originais” ainda segundo José Honório. Os valiosos papéis e documentos que Drummond coletou pelo mundo tinham dois destinos: ou eram ofertados ao Instituto Histórico ou foram parar nas mãos de Melo Morais. À propósito, grande parte inicial do acervo de Melo Morais, colecionado em mais de 18 anos, e que, nas palavras de Morais constituíram “a mais rica coleção que um historiador pode desejar, composta de crônicas manuscritas, de cartas régias, cartas de doações, ordenações, regimentos, alvarás, correspondências, notas de fundação, etc” provieram de Drummond.

            Assim, pois, da generosa vertente Drummond partem dois historiadores tão díspares e tão desiguais como Varnhagen e Melo Morais. Este último não possui obviamente o preparo necessário e o treino contínuo do primeiro, que é de fato e de direito o maior pesquisador brasileiro do século XIX.

            Temos então a oportunidade agora de ler as famosas Anotações de Drummond à sua Biografia colocadas à disposição dos Irmãos e dos pesquisadores sobre a Maçonaria no Brasil. O texto, até agora de conhecimento restrito aos especialistas, é fascinante e esclarece uma série de pontos da história da independência do Brasil.

            Bom proveito.